quinta-feira, 28 de abril de 2011

Isso aqui é Brasil

Ontem foi mais uma daquelas noites que não era para eu ter saído, mas como era um programa com as meninas da pós que eu nunca vejo, nunca vou nas paradas que elas combinam, fui lá no tal pub que elas estavam. Obviamente bebi para caralho e obviamente no fim do noite estava sem um puto.

Sem grana e sem saúde para rumar para o seguinte bar, rumei para o ponto de ônibus mais parto. Claro que assim que eu cheguei no ponto o ônibus tinha acabado de passar. Ok, só esperar 20 minutos, 3h20, até o próximo. Só que o lugar tava sinistrinho, àquela hora da madruga não tinha ninguém por perto e quando aparecia alguém era um alguém bem sinistro. Resolvi ficar andando até a esquina e voltando, para dar a impressão que estava procurando alguma coisa, sei lá. Numa dessas, dois caras param no ponto. Dois caras estranhos, devo dizer. Avistei um cara com aparência confiável lááá na esquina, não tive dúvidas, acenei e fui até ele. Ele tava comendo um sanduíche não entendeu nada quando percebeu que não me conhecia: "Pô, foi mal, não te conheço, não, mas estava ali no ponto de ônibus e achei aqueles caras estranhos aí vou fingir que sou sua amiga tá?"
Ele me olhou muito desconfiado e mandou eu ficar tranquila que a cidade está cheia de câmeras espalhadas e que eu iria ficar bem e agora dá licença porque eu vou encontrar minha namorada. Olhei de volta para o ponto e os tais caras tinham ido embora. Resolvi ficar andando que nem uma louca para cima e para baixo, atrevessando a rua e fingindo ligar para alguém. Quem olhasse de fora certamente pensaria que eu estava altamente drogada e tendo alucinações de perseguição. Mais doida que o Bruno Gagliasso naquela novela que ele fazia papel de maluco.

Nisso passaram os vinte minutos e vi  lá da esquina o ônibus chegando, olhei para o ponto e tinham outros dois sujeitos estranhos lá. Vim correndo da esquina, e alcancei o ponto bem na hora que o ônibus parou. Entrei na frente dos dois sujeitos, paguei e fui me sentar no meio dos hispters, jovens e descolados, que lotavam o N8. Porque em East London é assim, qualquer hora da madrugada os ônibus estão lotados de dickheads, muito coloridos, muito mudernos, muito bêbados e muito novos.

Nisso eu notei que o ônibus ainda estava parado e que os dois caras estranhos que entraram depois de mim estavam discutindo alguma coisa com o motorista. Aparentemente eles não tinham dinheiro para a passagem. Só ouvi um deles gritar com o motorista: "You're very stressed (oi, vc quem tá gritando?), you should go home and fuck your wife!". Nisso eles desceram do ônibus e o motorista fechou a porta na cara deles. Daí, só ouvi um barulho: o cara que gritou deu um chute na porta, que se espatifou no chão em mil caquinhos e os dois saíram correndo pela rua.

Geral bolado, o motorista sai da cabine e manda todo mundo descer e esperar o próximo lotação porque ele teria de ir para a garagem. Caraca! É sério isso? Mais vinte minutos nesse ponto?! Pelo menos agora era uma galera mega reunida no ponto. E as pessoas desciam do ônibus muito putas e mandavam um "thanks a lot"para o piloto como se a culpa fosse dele de um filho da puta ter chutado a porra da porta. Fiquei com pena do piloto. Bom, nessa altura já eram quase 3h30 e já que teríamos de ficar ali pelo menos mais vinte minutos, tratei de garrar coleguismo com ma francesa que estava do meu lado e um indiano (que pode ser de outro país, mas achei que tinha cara de indiano). Comecei a enrolar um cigarro e a francesa pediu um, daí o indiano imitão pediu outro. Cedi um para a francesa e o restinho do meu tabaco para o cara e avisei: "sorry, acabou o filtro, vai ter que fumar sem mesmo". Aí não é que o cara me vira com uma "ah, mas eu queria um filtro"....

"Mermão,  eu não queria estar aqui e não queria dividir meu resto de tabaco com vocês, então bora baixar as expectativas porque tá ruim pra todo mundo".

Eis que surge o novo ônibus e geral entra. De repente começa uma discussão, aparentemente uma menina se recusa a pagar novamente pela passagem pois gastou a grana no tal fatídico primeiro ônibus. Nessa hora eu rezei e falei alto: "please, not again". Aí o cara do meu lado manda: "Cara, tá tipo aquele filme "o dia da marmota". Ri alto, ri para não chorar, sério, aquilo não tava mais maneiro. Graças ao bom Deus a menina entrou e o ônibus seguiu caminho.

Mas eu juro, nunca mais saio sem o dinheiro do táxi. Nem que isso me custe o orçamento da semana

Um comentário:

Vitor Souza disse...

hahahaha adorei. de onde tiras essas histórias? (ê)