terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre os relacionamentos (mera observação)

Muita gente me pergunta se aqui em Londres é fácil achar namorado. Olha, desse assunto estou meio por fora porque já vim fechada para balanço, comprometida com um cidadão brasileiro, mas posso dizer que, aparentemente, tá ruim para todo mundo. Isso é que as mulheres aqui reclamaram, mas não é disso que elas reclamam em toda parte?  ("não tem homem nessa cidade", seja a cidade qual for)

Bueno, aqui parece que o bicho pega porque os ingleses são muito, muito roda presa. Eu não sei bem o que acontece, acho que as inglesas também devem ser roda presa e por isso ficam reclamando. O lance é que se um inglês gosta de você ele vai demorar um ano para te chamar para sair e, depois que vocês saírem, vai levar outros bons seis meses para te beijar (segundo relatos). Tenho uma amiga brasileira que é casada com um inglês e diz ela que teve que dar 11 (ONZE!) pints para o sujeito até ele ter coragem de chegar junto de fato. Foda, né? E caro...

Bom, a minha teoria é que europeu é ruim de jogo para caramba (homens e mulheres). Os espanhóis são espertos, mas ingleses, alemães, holandeses... Tenho a impressão que tem a ver com o frio, a incapacidade de dançar, essa coisa de ser inimigo do ritmo acho que influencia também. E, claro, não podemos esquecer o espetáculo que são as inglesas quando bêbadas. Eu, fosse homem, ia cantar em outra freguesia também.

A situação está tão preta que as mulheres aqui partiram para a busca cibernética. A internet é o último recurso para as miss corações solitários e, dizem por aí, que lá o negócio corre bem.

Acho engraçado que fica essa lenga lenga toda para pegar, beijar etc, mas saiu duas vezes já está namorando e em três meses de namoro nego já está morando junto. Não tem papo, o povo aqui é prático. O contrato do apt vai vencer, não tô afim de procurar flatmate, é mais barato dividir conta em casal e vamos que vamos. Confesso que admiro isso, sem frescura. Outro dia estava comentado isso com uma amiga francesa e ela se assustou "ué, como são os homens no Brasil?".

Xiii Marquinhos, senta que lá vem a história. Falei: "Olha,  no Brasil você pode sair durante um mês com um cara, quase todos os dias, e se você perguntar, ele vai dizer que isso não é namoro porque ele não está preparado para um relacionamento".

Ela achou estranhíssimo.

Pois é.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Londres bomba

A paranóia em Londres é tão absurda que você começa a questionar  se, de fato, tem motivo para tanto. Volta e meia rola uma ameaçazinha de bomba e metrô e ônibus estão poluídos de anúncios de como proceder caso observar alguma movimentação suspeita ou pacote/mala perdidos. No metrô então é irritante, com aqueles autofalantes mandando você ficar sempre alerta, tenso.
O medo coletivo rende até umas histórias boas, como a da minha amiga,  que antes de voltar para o Brasil fez milhares de compras em Candem Town para presentear a família. Saiu de lá carregada de sacolas, aí uma amiga ligou e emendou num pub ali perto para umas pints. O povo foi chegando e deram idéia de ir para outro bar e ela foi indo, indo e quando estava pegando o night bus para ir para casa (3h30 da manhã, hehehe) olhou em volta e deu falta das sacolas. Como ninguém é rico nessa bagaça, resolveu juntar as forças e refazer todo o percurso e tentar achar as sacolas. Claro, ideia de bêbado.

A menina tá lá já no outro night bus, voltando tudo de novo , passa num ponto de ônibus e pá, estão lá, intocadas todas as suas compras. Imagina isso no Rio? O ponto cheio de gente, cheio de gente bêbada e um bando de sacolas de compras intactas? Impossível! Aqui também seria provavelmente há uns 10 anos atrás, pré 11 de setembro, agora o medo se instalou e nego corre até de sacola “suspeita”.

Bom para ela, que teve uma história com final feliz, mas para mim só acho um saco. Ontem na loja de departamento que eu trabalho teve ameaça de bomba. Sabe como é, Obama na cidade e tudo a ver explodirem um bando de dondoca capitalista, vai saber. Aí passam os seguranças mandando a gente checar nossos counters em busca de algo suspeito. Como assim, Bial? Algo que pareça uma bomba? Mas gente, se nego aqui não deixa a gente nem embarcar com uma shampoo de mais de 100ml porque aquilo pode ser algo potencialmente letal, como saber se tem uma bomba no meu counter?

Porque pelo que eu entendo dessa lógica do shampoo, cremes e garrafas d’água, tudo pode ser uma bomba. Quem me garante que o terrorista não plantou uma bomba igualzinho ao creme de bronzear que eu vendo?

É muita pressão.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Estrangeira entre os estrangeiros

Não consigo me acostumar com o fato de entrar num ônibus aqui em Mile End e ser a única mulher que não veste burca. Ok, não é burca, são aqueles véus pretos que cobrem o corpo todo, a cabeça e deixa só os olhinhos de fora, tipo umas ninjas árabes. Pois é, é assim. E os homens usam uma espécie de saia com uma touca e de crochê na cabeça. Às vezes eles estão de "civil", mas são sempre babacas com as mulheres. Pois é, eu vivo no meio desse povo e, posso falar?, curto não. A recíproca é verdadeira porque as mulheres não ousam olhar para qualquer lado e os homens claramente me consideram uma puta por deixar meus cabelos e braços à mostra. Eu não gosto deles porque eles não são educados, tratam mulher como lixo e muitas vezes eles te assediam de maneira escrota.

 O nome disso aqui é harassment, e têm deixado as mulheres daqui muito preocupadas, algumas estão fazendo campanha contra e tudo. Pq não é como a cantada do pedreiro no Brasil, que manda um "gostoooosa" ou algo do gênero. No Brasil esses caras que mandam essas cantadas não esperam resposta, eles só querem falar. Aqui o harassment é bem caído, com o cara andando do seu lado e perguntando coisas: "e aí, tudo bem? como vc está? quer me conhecer?". Ele quer que vc repare nele e isso me deixa muito puta. Óbvio que não vai acontecer nada, mas eles fazem isso pq sabem que vc vai ficar assustada. Na minha vizinhança nem rola muito disso, mas se você for para Whitechapel, por exemplo, vai encontrar com mais facilidade.

O lance é que essa galera se sente muito mais dona do pedaço do que os próprios ingleses. Em Whitechapel tem o banco islâmico, as lojas são escritas em árabe e quem não for árabe está completamente fora da situação. Na boa, detesto aquele lugar.

Então, segundo minha percepção a coisa de divide mais ou menos assim: Mile End e Whitechapel dominado pelos árabes (que ainda fedem, mals aê a xenofobia, mas tô nos cascos com esse povo. Na vendinha eles sempre querem te passar a perna).

Bethnal Green e Bricklane têm muito árabe, mas é mais indiano ali. Só reparar nas lojas de roupas e comida. Muito sári, muito curry. Não me incomodo com os indianos.

O sul tipo Brixton é dominada pela Africa. Lá em Peckhan, por exemplo, branco é raridade e é comum ver agência de turismo vendendo pacotes para Serra Leoa e Nigéria. Já onde eu morei, em Battersea, e onde uma amiga mora em Lewisham (ambos no sul) é mais comum caribenhos. Muitos jamaicanos. Os caribenhos que moravam no meu antigo prédio gostavam de jogar o lixo pelo corredor do prédio. Pois é...

Já em Vauxhall a comunidade portuguesa domida, com muita vendinha com produtos da terrinha. Também tem muito gay (não sei como essa mistura se deu).

O west é totalmente dominado pelos ricos, proper english people. O norte eu não conheço muito, mas tb me parece bem inglês.

A misturada de gente é um dos pontos fortes de Londres e, sem dúvida, é isso que deixa a cidade mais interessante, mas quando as pessoas vêm morar num outro país deveriam estar mais abertos a absorver essa cultura, né? Se fechar em gueto não me parece uma boa opção. É como eles dizem, when you are in Rome...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Teorias sobre o verão

Estou com uma sensação que acabei de sair de uma TPM de três meses e finalmente as coisas estão voltando para os eixos. Acho que é por isso que os ingleses ficam tão debilóides durante a primavera/verão, o sol e o calor (ou o frio moderado) fazem a vida ficar bem mais viável. É indescritível a sensação de fumar um cigarro acompanhado de sua cerveja numa mesinha do lado de fora do pub sem congelar a sua bunda. Sair andando pela rua sem se preocupar com o constante nariz vermelho que teima em escorrer. Melhor, sair só com um casaco (UM!!!!!) que não pesa uma tonelada, dar folga às botas... Como diria o Rei, são tantas emoções que nem vale a pena citar todas as óbvias benesses desta época do ano.

Mas como felicidade de imigrante dura pouco, é claro que já me alertaram umas cem mil vezes para não get too excited sobre o clima que já já o cinza volta a reinar na cidade. Ai, depois falam de mim, mas aí, na boa, inglezada mais roda presa! Pô, curte aí o sol, aproveita para fazer farofa no parque como vocês curtem, né? Pensa nisso agora, não. Mas é assim, toda vez que comento como estou feliz com o tempo, vem alguém cortar meu barato e revelar sua própria teoria sobre o "verão" londrino (entres aspas pq quem é do Rio sabe que verão não isso aqui, né gente?!). Tem os que dizem que quando faz sol em abril e maio é porque vai chover e fazer frio em julho e agosto. Se fez para mais de 23C (como aconteceu há duas semanas) é prenúncio temporal e temperaturas siberianas para os próximos dias. Se está sol há cinco dias seguidos significa que nunca mais haverá outra semana de tantas dias bonitos seguidos novamente... E assim vai.

A minha teoria pseudo-psicanalista sobre esse apanhado de teorias é que os ingleses têm medo de se frustrar. É tamanha a depressão que toma conta e suas vidas nos meses de outubro até abril que eles têm dificuldade em assimilar que pode, de fato, existir outra estação do ano que não o inverno. Porque deve ser foda mesmo você esperar o ano todo pelo verão e quando ele chega durar só uma semana e acabar, daí o medo de "gostar"demais, sacou? É tipo aquele namorado que termina com você, parte seu coração em pedacinhos e depois pede para voltar e diz que finalmente descobriu que te ama. Você não mais acreditar totalmente nele, né? Ou pelo menos vai demorar até a confiança se restabelecer. É isso, os ingleses, por algum motivo que eles nunca entenderam, pois nunca fizeram nada muito errado, tomaram um pé na bunda do verão e agora custam a acreditar nele de novo.