quinta-feira, 10 de maio de 2012

A van, essa eterna provação

Eu juro que não queria mais falar das minhas agruras na van. Aliás, eu juro que não queria mais andar de van, mas não rolou a mega tampouco aumento, então a luta continua e os perrengues também, claro. Afinal, o que seria desse blog se eu minha vida não fosse recheada de situações bizarras?

Tarra eu na van que emula o 592, curtindo uma TPM básica, uma dor de cabeça após um dia de trabalho, pensando nas dívidas, quando começa um pôperô alto para caralho no som.  Pior, o som era só atrás, claro, porque o motorista queria ouvir o bate-estaca em surrond. Para quê colocar a música só ali do ladinho dele, né?

Educadamente, por que conheço esse povo de van, pedi para o motorista abaixar o volume. Ele o fez e eu agradeci. Nisso, vejo um sujeito sentado na minha frente, diagonal, virar-se e me examinar de cima a baixo com cara de desprezo. Caguei.

Deu dez minutos e a pista de dança dos infernos recomeça. Mais uma vez, cheia de por favores, com licença e os caralhos, pedi para o gentil motorista abaixar o volume, pois estava incomodando a rapeize do fundão. O condutor, mais uma vez, acatou meu pedido. Um tiquinho, mas aliviou.

Nisso, o tal sujeito sentado à frente, na diagonal, começa a praguejar. Previ o entrevero, mas esperei o tom de voz aumentar. Dito e feito, o sujeito se vira para mim e lança: “Ô garota, ele abaixou o som, mas eu estava curtindo e aí, quem vai descer, você ou eu?”

“I beg your fucking pardon?! Coméquié?!”. E ele continua: “O motorista tá botando um som para gente curtir, se você não gostou sai fora”.

Mermão, o sangue ferveu, o olho injetou, pensei que fosse pular no pescoço do cara, mas respirei fundo e, educadamente (porém firme) respondi que música não era permitido dentro de ônibus e transportes coletivos de uma maneira em geral, que as pessoas deveriam respeitar o espaço alheio e que ninguém é obrigado a aturar música alta depois de um dia de trabalho, mas que, acima de tudo, era proibido e ponto.

“Se você não quer ouvir música bota o fone de ouvido, sua patricinha”. Para tudo nesse momento, atentem para a lógica do sujeito! Não quer ouvir música, bote um fone. E olha que a lusa sou eu.

“Meu senhor, isso não faz o menor sentido, se o senhor quer escutar música, coloque o senhor o fone. Normalmente é assim que funciona”

A resposta gênia: “Se você tivesse no Ceará tava lascada, lá em Fortaleza o forró come solto e você não ia dar um pio”

“Ainda bem que estamos no Rio de Janeiro, não é mesmo? Se o senhor quiser dançar forró, volta para a Paraíba” (essa eu mandei só de sacanagem, para zoar)

Depois dessa ele emputeceu de vez, mas perdeu a coragem de continuar o bate-boca e ficou reclamando e me xingando para as pessoas próximas dele, mas sem olhar na minha cara. Confesso que fiquei aliviada, já tava vendo a hora que ele ia puxar uma peixeira e me matar. Porra, morrer de peixeira numa van em plena hora do rush na São Clemente é muita falta de glamour nessa vida.

Um tempo depois o sujeito desceu, antes de mim, não sem antes me mostrar seu maravilhoso dedo médio. Um primor de educação.