sábado, 30 de julho de 2011

Cuidado por onde anda

Daí que eu precisava (ainda preciso) comprar uma outra mala para levar os cacarecos adquiridos durante esse período aqui. Sabendo que existe uma Argos em Whitechapel pensei: "ora, por que não ir andando até lá? Faço uma boa caminhada e ainda dou um rolé no comercio local". Quando digo comércio local me refiro a um misto de feira livre com Mercadão de Madureira. Saca Bangladesh? Nem eu, mas imagino que ali seja tipo um parque temático que emula o país asiático.

Você entra na rua do camelódromo e simplesmente não está mais em Londres. Mulheres cobertas dos pés à cabeça, homens com roupas típicas (e queles gorrinhos tipo Milton Nascimento) e só escuta árabe. Os caras ficam gritando para os fregueses anunciando seus produtos (em árabe, claro) e vende-se de tudo: de ralador de legumes à calcinha, passando por frutas, bijuteria, DVD pirata, uma loucura.

Aí tô lá, me sentindo a haule da parada, quando vejo uma senhorinha very britsh, fazendo suas compras com um carrinho. Daí que vem uma árabe com um carrinho de bebê por traz e, pimba, dá um tostãozinho (sem querer, óbvio) no calcanhar da velha. Minina... Pra quê? A velha começou a dar o maior auê, gritar com a árabe que ela deveria olhar por onde anda etc (em inglês, e eu pensando que, se pan, nego nem deveria entender inglês ali). A árabe fazia carinho no ombro dela, tipo "vai passar" e a velha gritava mais. E eu pensando, "ô vovó, segura tua onda aí que a gente é minoria aqui nessa porra, se nego entrar numas junta na gente e já era". Aí começou a formar uma galerinha, parando para ver e tals. E eu, que já tava prevendo um conflito ocidente X oriente, tratei de picar  minha mula, pq né? Não curto entrar em barraco que vou perder.

Fui saindo de fininho e percebi olhares raivosos para o meu lado. Ainda fiz a fofa, parei numa tendinho, penchinchei os preços e fui embora. Climão.

Mas aí você vê, e agora vou defender a árabe, que inglês adora dar um chilique por besteira. No dia seguinte ao deste episódio, fui fazer o meu jogging no canal aqui perto de casa. O canal é tipo uma Lagoa, onde a ciclovia é disputada palmo a palmo com corredores, ciclistas, transeunte à passeio, mães com carrinhos de bebês e cachorros. Pois estava lá quando me deparo com uma mulher e seus três filhos andando um do lado do outro. Como eles ocupavam todo o espaço disponível, interditando os dois sentidos da pista, pedi licença para a mãe à fim de ultrapassar o rebento. Daí que a mulher deu mó escândalo, falou que eu era super rude, que deveria ultrapassar por fora. oi?! Perguntei: "Por fora você diz à nado, por dentro do canal? Porque, né, vamos combinar que você está completamente errada de andar com essas crianças assim?" Bicho, tá de galera anda em fila indiana, a regra é clara! Ela queria continuar falando, dava para ver que aquele era o high light do dia dela, queria emoção. Eu, com muita fineza, peguei o fone do meu ipod que tinha tirado para ouvir as merdas que a senhora dizia, botei de volta na orelha, olhei bem na cara dela e mandei: "I'm done".

Achei chique.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sinto dizer que... London, I'm going to miss you

Passei todo meu tempo aqui em Londres evitando me apegar muito. Porque eu sou do tipo que se apega, sabe? Garro coleguismo com a maior facilidade e viro BFF (tá, não é com qualquer um). Eu me apego ao meu quarto que morei, me apego aos flatmates (menos o John), me apego à vendinha da esquina, à rotina... Enfim, deu para entender a ideia, né?

Daí que não rolou de evitar algumas amizades e fiquei bem próxima de algumas pessoas que hoje me são muito caras, e teve também a história da qualidade de vida aqui ter melhorado consideravelmente com a chegada do verão (que não é assim "o verão", mas é bem melhor do que o inverno) e tudo isso para dizer, não sem embaraço, que sentirei falta de Londres.

Eu sei, eu sei, passei meses à fio reclamando da cidade, chorando de saudade do Rio etc etc. Mas olha, queria dizer que odeio quando me cobram coerência, ok? A pessoa pode ter sentimentos conflitantes dentro dela. É tipo você terminar um casinho porque seu ex pediu para voltar. Claro que você prefere o ex, que é a pessoa que você ama de verdade, mas isso não significa que você não sinta nada pelo carinha que você tava pegando, certo? É tipo isso, é escolher entre a fiel e o lanchinho da madrugada. Vou sentir falta do lanchinho.

E logo agora que garrei amizade com o árabe da minha vendinha preferida. Depois de meses e meses trocando secos "good mornings"e "good byes" ele puxou assunto, perguntou de onde eu era e até arriscou um "tudo bem". Achei fofo. Pois é, mais uma pessoa que vou abandonar. No futuro eu poderia até ganhar uns descontos nas frutas e verduras, toda uma promessa de uma vida mais em conta por água abaixo.

Difícil, né?

sábado, 23 de julho de 2011

Vou do jeito que vim

Cheguei homeless e vou embora do mesmo jeito. Porque a vida aqui é assim, quando você acha que tá tudo certo, acabaram os perrengues, eles voltam. Quando eu vim tinha uma casa acertada, mas o quarto só estaria disponível dali a quatro dias. Aí lá fui eu de mala e cuia para o sofá da minha amiga, que me deu abrigo, comida e uma toalha, item de maior apego meu aqui, pois depois de todos esses meses ainda é minha única toalha (tem que lavar e botar na secadora toda semana).

Durante quatro dias o flatmate dela me olhou torto toda vez que ia ao banheiro ou cozinha e me via aboletada no sofá dele sentindo muito frio e muita pena de mim mesma. Pois bem, ao fim de quatro noites fui para meu novo lar e lá fiquei durante dois meses até o cidadão dono do quarto voltar e eu passar por todo o perrengue de arrumar uma nova casa para onde só poderia me mudar, claro, depois de 10 dias. Lá fui eu, mais uma vez, perambular pelos sofás alheios, de mala e cuia, por nove noites. Dessa vez com o agravante de ter que terminar trabalhos finais da pós ao mesmo tempo. Foi a época que quase enlouqueci e enlouqueci todos a minha volta.

Mais uma vez a tal amiga me deu abrigo (mas só por três noites, porque nem ela poderia ser tão santa assim), comida e ouviu toda a minha ladainha de reclamações. Eu tinha certeza que depois daquilo ela nunca mais seria minha amiga. Depois até pedi desculpas, num papo de bêbada emotiva com direito a abraços e declarações do tipo "te considero para caralho" e tals.

Pois, passados quatro meses de felicidade no meu flat, estarei mais uma vez no olho na rua. Agora quem me fodeu foi a Air France, que se recusou a adiantar minha passagem e, tendo que sair daqui quando meu contrato acabar no início de agosto, adivinha onde vou parar? Coitada da amiga...

Mas a cereja do bolo é: adivinha de quem é a culpa de eu ter que sair do apartamento? Um doce para quem acertar... Do BABACA do meu flatmate, o mesmo que rendeu tantas reclamações no blog e Facebook. Tudo volta, não é mesmo?

O babaca do John foi passar as férias de julho em casa, em Kent, onde segundo suas próprias palavras "my mom is going to feed me". How sad is that? Mas saiu dizendo para o landlord daqui que a partir de agosto ele gostaria de alugar todo o flat por um ano e escolheria os outros dois flatmates (uma vez que eu e a outra menina sairíamos). Pois bem, arrumei uma amiga brasileira que vem morar em Londres para alugar meu quarto e eu poderia ficar aqui até ela chegar, que calharia certinho com a época que eu iria embora. Só que depois de uma mês comendo a comidinha da mamãe, John resolve na semana passada que não volta a Londres, que prefere vir todo dia de Kent para cá para estudar e não quer mais sair da barra da saia da mami. Quem se fodeu? Eu, a menina que vinha e o dono do apt, que teve de contratar às pressas uma agência para procurar outros interessados.

Não é mole, não, viu? Mais quatro noites na casa da amiga antes de finalmente regressar ao Brasil. Dessa vez melhor eu comprar um presente pra ela, né?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A equação do ex

Ontem estava na loja e chegou uma cliente toda aflita. Ela tinha comprado uns produtos comigo no dia anterior e estava nervosa querendo saber se tinha passado tudo certinho no rosto. Respondi que estava ótimo, olhei bem de perto, tipo como se fosse expert no assunto, com expressão séria e dei o veredito: sim, tá linda!

Aí ela explicou que estava nervosa porque dali a uma hora ia ter um date, "o date", o date mais importante EVER, segundo ela. Mandei na lata: "é com o ex?". Ela me olhou muito surpresa e perguntou como eu tinha adivinhado. "Elementar, minha cara: perfeição a gente só quer para passar na cara do ex". Se você vai a um date normal, assim, com um cara que você ainda não conhece, você quer parecer bonita, esperta ou inteligente (ou tudo junto), mas meio que você quer ser você mesmo. É meio que isso aí, a mensagem é "o pacote é esse, curtiu?". Agora, se o lance é encontrar o ex as mensagem são várias e muito complexas, principalmente se é caso de pé na bunda ou reconquista. Você quer é sambar na cara do sujeito, mas com classe, estilo que Viviane Araújo sempre prega, "sensual sem ser vulgar" (um caso clássico de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, não é mesmo?)

Tudo tem quer meticulosamente pensado. Não dá para chegar super feliz e ocupada e cheia de vida porque é óbvio que é fake. Não dá para usar um decotão ou saia muito curta porque entrega o desespero, maquiagem muito pesada significa que ficou muito tempo se produzindo, cara de cachorro que caiu da mudança gera pena... A equação é complexa. Como eu disse para a sujeita, "been there, done that", simpatizei com a causa e começamos juntas a analisar cuidadosamente toda a produção. Ela estava com uma roupa ótima, nada muito over, super chique, elegante, mas casual (pensa que é fácil atingir o resultado?). Ajudei com o make, fizemos somente uma pele perfeita, um blush saúde e nada mais. Tadinha, ela estava tão insegura, me apeguei.

Quando acabamos ela ficou contente e prometeu voltar na loja para me contar como foi. Tô na torcida. Não é fácil arrumar homem em Londres, gente. Tadinha

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Verão? Onde?

Antigamente a parte boa de se morar em Londres é que você ganhava muito mais do que toda a Europa, aí quando viajava era a pessoa mais rica do camping. Agora nem isso mais existe, outro dia fui para Lisboa e na hora de trocar minhas ricas libras por euro ficou elas por elas, 165 pounds viraram 160 euros! Pô, tá de sacanagem, né? Isso aqui não era para ser uma puta moeda forte?! Azedei, mas tudo bem, Portugal tá na merda, lá é tudo baratinho e continuarei sendo a rica do camping. Só que aí você chega em Lisboa e vê aquele céu azul, nenhuma nuvem, calor civilizado de 26C, ventinho refrescante, praia, peixes bem temperados, pessoas falando português, toda uma vida simples de táxis que custam 4 euros e pensa: tem alguma coisa muito errada com o verão inglês.

Na boa, tudo bem chover, tudo bem uns dias mais frios, tudo bem que não existe a possibilidade de não usar meia-calça a noite, tudo bem o taxi custar 20 libras, tudo bem o peixe ter gosto de sabão, mas aí pelo menos vamos fazer uma moeda que valha todo esse sacrifício, né não?!

Eu tava meio conformada com o clima daqui, sabe? Tava já naquele modo "ah, tá quase calor, 20C é quente, poxa", mas ir a Lisboa e ver aquelas praias lindas, aquele gente bronzeada mostrando seu valor me fez muito mal. Esfregaram a alegria de viver na minha cara, sambaram na minha modesta felicidade por ter saído do inverno. Deprimi

 Such a nice weather, inn it?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pertence, não pertence

Tem uma coisa que me incomoda aqui para caramba (só uma? vocês pensaram) que é o fato de eu não ter um lugar meu, sabe? Não, não estou falando de casa própria, mas sabe quando você tem o "seu" bar, a "sua" barraca na praia, o "seu" café? Pois é, não tenho nada disso aqui. Até tem uns pubs que eu frequento mais e tals, mas não a ponto de chamar de meu. Mesmo o pub aqui em frente de casa só devo ter ido uma meia dúzia de vezes (falta de companhia é foda).

Tava ontem num café que adoro num dos meus lugares favoritos daqui, em Bricklane, e pensava nisso. Tava na calçada numa mesa, sozinha, tomando um café e fumando um cigarro e pensando nisso e observando as pessoas. Daí me dei conta que não tinha muito sentido esse sentimento de "não pertencer" porque afinal de contas aqui é uma grande conferência da ONU e acho que nem 20% do povo que mora aqui é really Londoner.

Mas aí me toquei que o grande lance é que nunca me senti em casa aqui. Outro dia tava conversando com um amigo brasileiro e perguntei quando ele pretendia voltar para o Brasil e ele respondeu que não pretendia voltar, pois "Londres agora era a casa dele, sabe?". Não, não sei. Mesmo. Essa é um conversa recorrente entre os brasileiros que moram aqui, "quando vc volta?" e a resposta dele é a que mais ouço: "cara, já moro aqui a x anos (um, dois ou dez), aqui agora é a minha casa". Eu acho isso esquisitíssimo, juro! Por outro lado, outro dia conversava com outra amiga, o mesmo papo, e ela disse que não sabia se conseguiria voltar para o Rio pois já morava fora há muito tempo, mas em países diferentes. Ela disse que invejava a minha certeza de que o Rio era o meu lugar e minha vontade inabalável de voltar para casa. E eu achei engraçado isso, pois foi um ângulo que nunca pensei. De repente ela tem uma sensação bem pior, que é o de não pertencer a nenhum lugar. Ao passo que eu não tenho a menor dúvida que o Humaitá é o melhor lugar do mundo (e o melhor bairro do Rio, como todos sabem ou deveriam saber).

Mas vai ver que é como um paulista que trabalha comigo aqui diz: "carioca não fica em Londres. Pode ver, se é brasileiro morando aqui carioca não é. Vocês não aguentam ficar longe da praia"

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O verão e moda jovem (que como todo munda sabe, tá cada dia mais...)

Enfim chegou o verão em Londres,  e junto com a estação mais quente (ou menos frio) do ano podemos observar a estranha mutação nas vestimentas das moças europeias. Calor não é muito o forte das gringas e ouso dizer que elas se atrapalham um pouco nesses três meses de sol.

Como bem ensinou minha professora da pós, "when you see something once, it's new, if you see twice it's coincidence and if you see three times, it's a trend". Partindo desse princípio podemos afirmar que laranja é o tom de pele tendencinha. Como negócio de sol aqui é meio raro, bronzeamento artificial bomba. Vale tudo, creme, cama de tanning, jet, até coca-cola. O importante é atingir aquele tom de pele horroroso que entrega na hora que você não esteve numa praia paradisíaca nas últimas semanas.

Também sou obcecada com as maquiagens. Não que elas não exagerem o ano todo, mas, amiga, tira essa argamassa do rosto pois tá quente e não tá ornando. Além do tanning, é importante usar muita, mas muita, base, de preferência uns dois tons acima do seu e deixar o pescoço de outra cor. Aí manda ver nas camadas para ficar beeeeem coberto tudo e esconder todas as imperfeições da cara (NOT). Aí, não importa a hora da manhã, mas elas estarão lá de cílios postiços, muito rímel (óbvio), muito lápis preto, muito blush e muito batom. Entendeu o esquema?

As unhas são um fascínio à parte. Primeiro que elas precisam ser postiças e enormes (claro) e com desenhos, apliques, cores sem sentido, um horror. Daí tem as roupas. O lance dos looks são as camadas, muitas camadas, shorts mini, com camisetas por baixo de outra camiseta por cima, um casaquinho, um cinto, colares, bota (oi?) ou havaiana (sempre na ordem e momento errado) e sei lá mais o quê.

A única coisa que realmente invejo é a criatividade capilar. As inglesas são ótimas com os penteados e cortes. Nunca é aquele cabelão comprido e sem graça que as brasileiras acham lindo. Mesmo quando o cabelo é comprido, elas inventam tranças, coques, texturas diferentes, cores... não tem monotonia. E dá-lhe tempo e produto para dar conta de tanta inventividade, mas os resultados costumam ser ótimos. Tô doida para tirar umas fotos dessas mocinhas no metrô, mas tenho medo de tomar porrada.

Em breve, fotos por aqui.