quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Lei do silêncio

Teve um dia que eu fiquei com saudades do 592 e dispensei a van para pegar o ônibus (ok, mentira, peguei o que passou primeiro) e me deparei com uma crente cantando (ou louvando) alto dentro do lotação. Caraleo, na buena, tudo que uma pessoa não precisa às 9h30 da manhã é te uma evangélica achando que está no karaokê. Fiquei muito puta, ela nem de fone de ouvido estava, nem dava para usar a desculpa que ela não estava “se ouvindo”, sabe?

Tipos, não bastasse o ônius imundo, barulhento, fedido e cheio de gente feia, ainda tinha a porra da mulher cantando. Daí que na hora de descer passei pela dita cuja e falei “Olha só, cantoria a essa hora da manhã ninguém merece! Jesus só pode estar de sacanagem comigo”

Pois sabem o que ela fez? Olhou bem dentro dos meus olhos e... continuou cantando.

Achei fino, mas fiquei puta.

O pior é que já peguei esse ônibus mais duas vezes e ela estava lá. Adivinhem? Cantando, claro

É muita desgraça para uma pobre alma

sábado, 15 de outubro de 2011

Às vezes não é tão difícil

Que é a mulher é poço de insegurança - principalmente em relação a seu peso - todo mundo sabe. O que poucos sabem é que é muito fácil nos tranquilizar. (e esse é, sem dúvida, o lide mais horroroso do jornalismo)

Pois eis que eu, possivelmente a criatura mais paranoiada com meu peso que conheço, estava às voltas com todas essas agruras e inseguranças quando ouvi esses dias um : "Olívia, nem com um pote de cocô na cabeça você fica feia". E achei um dos elogios mais bacanas que alguém já me fez.

O elogio casou divisão entre os amigos. Uns acharam que a comparação pecava na escatologia, outros acharam pura declaração. Eu simplesmente fiquei feliz.

É tão fácil, né?

sábado, 24 de setembro de 2011

Eu e as vans

Desde que as vans existem e foram legalizadas, ou simplesmente aceitas, eu as olho com desprezo. Maldizia todas e as culpava por todos os problemas de trânsito da cidade. Mas a vida nos prega peças e acabei indo trabalhar na Torre do Rio Sul, e quem mora no Humaitá sabe o quão difícil é ir daqui para lá de ônibus. Só existe uma linha que faça esse trajeto e é simplesmente a pior linha do mundo que pertence à companhia mais tosca de todas: o 592. Ou cinco never dois, como também é conhecido.

Viver à mercê do 592 é sentir na pele o horror. Quando eles passam (na mesma frequência do cometa Halley) dá até medo de entrar: é sujo, barulhento, caindo aos pedaços e infestado de baratas. Outro dia entrei em um que nem a frente do volante tinha. Uma vergonha.

Daí, meus amigos, que no segundo dia de sirviço catei uma van.

No começo eu não curti, não. Tava um calor do capeta, o ar não dava conta, as janelas mal abriam, o "cobrador" ia dependurado com a porta aberta gritando busca de passageiros, tava cheio de gente, apertado e tinha uma mini tv com Ana Maria Braga dando receitas aos berros. Foi tenso. Senti muita pena de mim e muita raiva de não ser rica.

A experiência seguinte foi pior, a van quebrou no meio da São Clemente, às 20h, e o motorista mandou todo mundo descer para empurrar. Visualize essa cena, por favor. Eu tive um ataque histérico de riso. Tava demais para um dia só.

Mas como eu sou brasileira e não desisto nunca (e também sou pobre sem grana para andar de taxi), perseverei e na última sexta-feira me peguei num papo animado com dois passageiros, o "cobrador" e o motorista. O motorista era evangélico, ouvia Aline Barros nas alturas (descobri que essa moça é tipo a Ivete Sangalo do Senhor) e era pai do "cobrador". Eles eram fofos, ajudavam as velinhas a subirem na van e faziam toda uma logística para tentar acomodar todo mundo sentado. Fofos.

Agora meio que me apeguei às vans, sabe? Outro dia mesmo tinha até um 592 dando bobeira ali na porta do shopping, mas preferi esperar as vans. Acho que dentro de pouco tempo vou garrar amizade com os pessoal que pega e larga do sirviço na mesma hora que eu e iremos todos enfrentar os intermináveis engarrafamentos dividindo nossas vidas e nos aconselhando.

Prometo mantê-los informados

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sobre o fim dos relacionamentos


Uma das coisas mais curiosas de terminar um relacionamento (e são várias) é o momento de dar a notícia aos amigos. Cada um recebe de uma maneira, mas o grupo que recebe de maneira mais peculiar é o grupo dos casados (os casais antigos). Sempre rola a surpresa e tals e quando você recebe as condolências pode perceber no tom deles que é um grupo que se divide em dois. 

Tem os que deixam escapar uma expressão de “coitada, foi jogada no vento. Ainda bem que minha relação é super sólida e isso NUNCA vai acontecer comigo”. Para esses eu tenho vontade dizer “ahã Claudia, senta lá”. Mas deixa quieto, né? Porque também não é hora de secar romance alheio. Ainda vai pagar de recalcada e não fica bem.

Aí tem a galera (ainda na turma dos casados) que recebe a notícia com pânico: “caraca, tomara que meu namoro também não esteja por um fio, será? PQP não queria estar na pele dessa menina jogada no vento”. E os homens então, esses morrem de medo da neo solteira virar uma ameaça, aquela amiga que vai querer arrastar a mulher dele para caçadas intermináveis atrás de homem e, claro, vai botar pilha para o namoro dela acabar também. Para esses eu queria dizer: menos. Solteirice não é sinônimo de desespero, ok? Aliás, isso vale para todos.

Além das situações supracitadas o chato mesmo é ter que contar again and again a mesma história 800 vezes. As perguntas que não calam: “Mas por que vocês terminaram?” e “Como você está?”. Eu tenho certeza que a segunda pergunta é feita com a melhor das intenções, mas... O que você acha? Ninguém nunca ta MUITO bem numa situação dessas, né? Mas e daí? E se a pessoa que tomou o pé na bunda ta na merda, deprimida e afogada no álcool, o que você vai fazer? Nada, né? 

Enfim, a vida não é nada fácil. O duro mesmo é não existir a tal terra dos ex para onde essas criaturas odiosas iriam quando deletadas de nossas vidas

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Andar de ônibus

Se uma coisa que me tira do sério aqui no Rio de Janeiro (ok, várias coisas irritantes, mas enfim) é o transporte público. Na real acho que o maior problema é o trânsito em si, não os engarrafamentos, mas a falta de educação dos motoristas. Ia começar falando mal dos ônibus, mas aí lembrei que me irrito deveras com os taxis também. Motorista de táxi é foda, mas acho que é mal universal. Sem dúvida os campões da categoria são os motoristas de ônibus.

Quem anda de ônibus no Rio tem de estar preparado para tudo: ônibus que "passa por fora", motorista que dirige a 140Km/h, a motorista que dirige a 20km/h porque está "fazendo hora", a trocador que dorme, trocador que se recusa a te dar o troco, a trocador que te deixa preso na roleta até ele contar todas as suas moedas, a baratas dentro do veículo, a gritaria de motorista com trocador, a briga do seu motorista de ônibus brigando com o motorista do ônibus ao lado... Enfim, são tantas emoções que não dá nem para numerar, mal consigo eleger qual desses eventos me deixa mais irritada. Mas, tivesse que escolher, diria que há um empate técnico entre o ônibus que "passa por fora" e o motorista que faz hora.

Semana passada estava no Leblon e o trocador estava explicando para o passageiro que agora, com o tal BRS ou BSR, nunca sei, acabou a mamata. Ele dizia: "Antes e agente parava fora do ponto para os passageiros ficarem mais perto de casa, as vezes a gente via um passageiro que já era até amigo do outro lado da rua e ficava esperando ele atravessar para pegar o ônibus, a gente saia da faixa da direita e pegava a da esquerda para ir mais rápido, agora não vai ter mais isso. A gente tinha mais camaradagem, mas acabou".

Olha, pode ser que alguns gostem desse "serviço personalizado", mas eu acho que em prol de uma ordem maior, ok o ônibus não parar fora do ponto, não me esperar atravessar a rua e assim por diante. Tem coisa mais enervante do que você estar atrasado para um compromisso e motorista parar o ônibus no meio da rua para o trocador descer e comprar salgadinho no Fornalha? Ou, para fugir da faixa engarrafada da direita, o motorista abrir a porta para você descer no meio de uma rua com seis pistas?
Mas também não acredito muito nessas mudanças de comportamento repentinas, não. Aliás, alguém sabe me dizer se essas BRS estão funcionando?



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Num tá fácio

Tive de ouvir do pai do meu namorado: "Tá tão bonita assim, mais cheinha". Tá bom pra você? Bom, para quem já ouviu um "temos que cuidar das nossas barrigas" e foi questionada sobre uma possível gravidez no meio de uma matéria numa favela carioca às 2h da madrugada, foi até fofo. Fato é que tive de aceitar a verdade: meu vestido soltinho não estava escondendo nada.

Arrasada pela obesidade, resolvi dar um tapa no visual e fui ter com meu hairstylist (ele não gosta de ser chamado de cabeleireiro). Corto o meu cabelo com a mesma pessoa há sete anos e ele nunca me decepcionou. Ou melhor, até ontem.

Pela primeira vez fui super específica: "não quero muito curto, que assim no meio do pescoço" (isso sou eu sendo específica). Pois ele tascou a tesoura e quando dei por mim estava igual a um playmobil inchado. Quer dizer, além de pobre e gorda, fiquei feia. Agora só falta emburrecer para descaralhar a porra toda. Que ódio! Não bastasse isso, o hairstylisy (eu tb acho cafona escrever isso) ainda cobra uma pequena fortuna. E, na boa, nunca vou entender porque esses "profissionais da beleza" (ui) surtaram e começaram a cobrar preços absurdos por 15 minutos de serviço. O problema é que não dá para viver sem um bom corte, né? Eu bem sei o que foi cortar minha própria franja durante a temporada em Londres, vai por mim, não fica bom. Aí fazer o quê? Aceitar que agora não salva nem mais do pescoço para cima. Tristeza...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A dura realidade

Dizem que quem converte não se diverte, pois eu acho que na atual situação só convertendo para se divertir e não deprimir. Como todo mundo sabe o Rio de Janeiro está proibitivo de tão caro e muitas vezes Londres parece até mais barato que aqui. E, para piorar, voltei para a Cidade Maravilhosa sem um puto no bolso, sem trabalho e cheia de compromissos sociais, claro, querendo matar as saudades dos amigo tudo.

Daí que para modo de não chorar e desesperar com o preço das coisas eu converto tudo. Se gastei R$ 60 num chope com os amigos, penso que ele custou uns 20 pounds e a coisa não fica tão feia assim, sacou? Se caio para trás com o preço do tomate cereja no Zona Sul (R$ 6, que mundo é esse?), mentalizo que o Marlboro Light custa menos de duas libras e acho que estou fazendo um grande negócio (ainda que isso signifique adquirir um câncer, ok).

A única matemática que ainda não consegui equalizar foi quilos adquiridos X atividade social intensa. Que ódio! Se tem uma coisa nessa vida que me arrependo desses meses em Londres foi não ter me matriculado numa academia. Agora já era, a pessoa chega toda trabalhada nas formas arredondadas e com desejo de comer de um tudo: empadão, feijoada, pastel, bolinho de bacalhau, açaí... Só coisinha leve. Aí depois fica com vergonha de ir à praia porque o biquini não cabe mais direito.

Mas tirando isso, juro que não tenho nenhum saudosismo do primeiro mundo. Tô amando esse inverno de 30C e as desgraças que assolam a cidade são as mesmas de quando saí, então... Fora isso, se alguém tiver contato de frila, avisa, tá?



terça-feira, 9 de agosto de 2011

E Londres, hein?

Claro que como tudo aqui vem acompanhado de um gazilhão de perrengue, hoje, na minha última noite aqui, nego resolveu boicotar minha despedida com medo dos pivetes do riot. Eu até entendo o povo com medo de voltar para casa e tals, mas, na boa, qual é a dessa polícia?

Sério, depois nego vem meter o dedo na nossa cara e dizer que o Rio não está preparado para sediar Olimpíadas, mas e Londres? Os riots estão sendo organizados via Blackberry por um bando de pivete que nem arma tem, quer dizer... Cadê o Capitão Nascimento nessa porra? Depois a polícia diz que cogita usar balas de borracha. HAHAHAHA, depois de 3 noites de tumulto, de uma cidade inteira em pânico, eles cogitam tomar uma atitude?

Enfim, caguei para Londres, mas estou revoltada pois estou sem internet em casa, sem comida e sem ninguém. Vai ser bem escroto passar a noite assim, entregue à solidão. Mas tudo bem, amanhã to indo embora e quero mais é que essa cidade aprenda a ser gente grande.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E chega desse assunto


Outro dia estava, mais uma vez, metida na eterna discussão, Rio X Londres. Esse assunto por si só é uma bobagem, pois não existe comparar as duas cidades. Claro que Londres é incrível e você está no centro do mundo, e tudo (teoricamente) funciona como deveria e o Rio por sua vez é corrupto, violento e muito caro (às vezes mais caro que aqui). Mas isso é chutar cachorro morto.

O sujeito em questão era um amigo de amigo que, cheio de ódio no coração, jurava que para o Rio ele não voltava mesmo, só para visita e olhe lá. Estávamos no parque na ocasião, fazia o maior calor e tudo que eu queria era um mate com biscoito Globo. Aí comecei a lembrar coisas assim que fazem o Rio ser o Rio: cachoeira, mate, biscoito Globo, Ipanema, baixo Gávea, toda a orla da cidade. E ele me solta uma: “mas você não conta, você odeia Londres”. Epa, peraí, oi? Desculpa, mas passei essa impressão? Malzaê, não odeio, não. Existe uma grande diferença entre odiar uma coisa e preferir outra, e foi isso que tentei explicar ao sujeito. Não é que eu odeie Londres, só prefiro o Rio. Ainda que aqui fizesse uma temperatura média de 25C, ainda que meus amigos e família estivessem aqui, ainda que fosse fácil ser jornalista em outro país, ainda assim eu preferiria o Rio. E não é que não enxergue os problemas da cidade, só que não sou deslumbrada a ponto de achar que Londres é o borogodó do universo.

Ele ia dizendo: “no Rio não existe vida cultural”. Discordo, pode não ser como aqui, mas que hay, hay. E outra, acho que se todo mundo que sai da cidade para viver uma experiência na Europa voltasse e aplicasse um pouco do viu e vivenciou por aqui na nossa cidade a gente poderia melhorar esse cenário, não? Acho meio babaca e preguiçoso simplesmente lavar as mãos e sair fora e abandonar  o Rio. Bora tentar fazer algo diferente, cuidar mais da cidade talvez.

Daí continuava: “O Rio é violento e todo mundo vive uma paranóia coletiva com medo”.  Desculpa, mas aqui também. O medo do terrorismo é muito maior aqui do que no Rio. A paranóia inglesa é de longe muito mais chocante. E o engraçado é que, de fato o Rio é muito mais violento, temos muito mais mortes e assaltos do que aqui, mas, ainda assim, o povo aqui vive na eterna histeria.

“O Rio está caro”. Muito, estou até com medo de voltar, mas aqui também não é barato, fato.
“O sistema de transporte não funciona”. Não, é um absurdo. Vou sentir muita saudade disso.
Mas fazer o quê? Ainda não inventaram nenhum lugar melhor.

sábado, 30 de julho de 2011

Cuidado por onde anda

Daí que eu precisava (ainda preciso) comprar uma outra mala para levar os cacarecos adquiridos durante esse período aqui. Sabendo que existe uma Argos em Whitechapel pensei: "ora, por que não ir andando até lá? Faço uma boa caminhada e ainda dou um rolé no comercio local". Quando digo comércio local me refiro a um misto de feira livre com Mercadão de Madureira. Saca Bangladesh? Nem eu, mas imagino que ali seja tipo um parque temático que emula o país asiático.

Você entra na rua do camelódromo e simplesmente não está mais em Londres. Mulheres cobertas dos pés à cabeça, homens com roupas típicas (e queles gorrinhos tipo Milton Nascimento) e só escuta árabe. Os caras ficam gritando para os fregueses anunciando seus produtos (em árabe, claro) e vende-se de tudo: de ralador de legumes à calcinha, passando por frutas, bijuteria, DVD pirata, uma loucura.

Aí tô lá, me sentindo a haule da parada, quando vejo uma senhorinha very britsh, fazendo suas compras com um carrinho. Daí que vem uma árabe com um carrinho de bebê por traz e, pimba, dá um tostãozinho (sem querer, óbvio) no calcanhar da velha. Minina... Pra quê? A velha começou a dar o maior auê, gritar com a árabe que ela deveria olhar por onde anda etc (em inglês, e eu pensando que, se pan, nego nem deveria entender inglês ali). A árabe fazia carinho no ombro dela, tipo "vai passar" e a velha gritava mais. E eu pensando, "ô vovó, segura tua onda aí que a gente é minoria aqui nessa porra, se nego entrar numas junta na gente e já era". Aí começou a formar uma galerinha, parando para ver e tals. E eu, que já tava prevendo um conflito ocidente X oriente, tratei de picar  minha mula, pq né? Não curto entrar em barraco que vou perder.

Fui saindo de fininho e percebi olhares raivosos para o meu lado. Ainda fiz a fofa, parei numa tendinho, penchinchei os preços e fui embora. Climão.

Mas aí você vê, e agora vou defender a árabe, que inglês adora dar um chilique por besteira. No dia seguinte ao deste episódio, fui fazer o meu jogging no canal aqui perto de casa. O canal é tipo uma Lagoa, onde a ciclovia é disputada palmo a palmo com corredores, ciclistas, transeunte à passeio, mães com carrinhos de bebês e cachorros. Pois estava lá quando me deparo com uma mulher e seus três filhos andando um do lado do outro. Como eles ocupavam todo o espaço disponível, interditando os dois sentidos da pista, pedi licença para a mãe à fim de ultrapassar o rebento. Daí que a mulher deu mó escândalo, falou que eu era super rude, que deveria ultrapassar por fora. oi?! Perguntei: "Por fora você diz à nado, por dentro do canal? Porque, né, vamos combinar que você está completamente errada de andar com essas crianças assim?" Bicho, tá de galera anda em fila indiana, a regra é clara! Ela queria continuar falando, dava para ver que aquele era o high light do dia dela, queria emoção. Eu, com muita fineza, peguei o fone do meu ipod que tinha tirado para ouvir as merdas que a senhora dizia, botei de volta na orelha, olhei bem na cara dela e mandei: "I'm done".

Achei chique.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sinto dizer que... London, I'm going to miss you

Passei todo meu tempo aqui em Londres evitando me apegar muito. Porque eu sou do tipo que se apega, sabe? Garro coleguismo com a maior facilidade e viro BFF (tá, não é com qualquer um). Eu me apego ao meu quarto que morei, me apego aos flatmates (menos o John), me apego à vendinha da esquina, à rotina... Enfim, deu para entender a ideia, né?

Daí que não rolou de evitar algumas amizades e fiquei bem próxima de algumas pessoas que hoje me são muito caras, e teve também a história da qualidade de vida aqui ter melhorado consideravelmente com a chegada do verão (que não é assim "o verão", mas é bem melhor do que o inverno) e tudo isso para dizer, não sem embaraço, que sentirei falta de Londres.

Eu sei, eu sei, passei meses à fio reclamando da cidade, chorando de saudade do Rio etc etc. Mas olha, queria dizer que odeio quando me cobram coerência, ok? A pessoa pode ter sentimentos conflitantes dentro dela. É tipo você terminar um casinho porque seu ex pediu para voltar. Claro que você prefere o ex, que é a pessoa que você ama de verdade, mas isso não significa que você não sinta nada pelo carinha que você tava pegando, certo? É tipo isso, é escolher entre a fiel e o lanchinho da madrugada. Vou sentir falta do lanchinho.

E logo agora que garrei amizade com o árabe da minha vendinha preferida. Depois de meses e meses trocando secos "good mornings"e "good byes" ele puxou assunto, perguntou de onde eu era e até arriscou um "tudo bem". Achei fofo. Pois é, mais uma pessoa que vou abandonar. No futuro eu poderia até ganhar uns descontos nas frutas e verduras, toda uma promessa de uma vida mais em conta por água abaixo.

Difícil, né?

sábado, 23 de julho de 2011

Vou do jeito que vim

Cheguei homeless e vou embora do mesmo jeito. Porque a vida aqui é assim, quando você acha que tá tudo certo, acabaram os perrengues, eles voltam. Quando eu vim tinha uma casa acertada, mas o quarto só estaria disponível dali a quatro dias. Aí lá fui eu de mala e cuia para o sofá da minha amiga, que me deu abrigo, comida e uma toalha, item de maior apego meu aqui, pois depois de todos esses meses ainda é minha única toalha (tem que lavar e botar na secadora toda semana).

Durante quatro dias o flatmate dela me olhou torto toda vez que ia ao banheiro ou cozinha e me via aboletada no sofá dele sentindo muito frio e muita pena de mim mesma. Pois bem, ao fim de quatro noites fui para meu novo lar e lá fiquei durante dois meses até o cidadão dono do quarto voltar e eu passar por todo o perrengue de arrumar uma nova casa para onde só poderia me mudar, claro, depois de 10 dias. Lá fui eu, mais uma vez, perambular pelos sofás alheios, de mala e cuia, por nove noites. Dessa vez com o agravante de ter que terminar trabalhos finais da pós ao mesmo tempo. Foi a época que quase enlouqueci e enlouqueci todos a minha volta.

Mais uma vez a tal amiga me deu abrigo (mas só por três noites, porque nem ela poderia ser tão santa assim), comida e ouviu toda a minha ladainha de reclamações. Eu tinha certeza que depois daquilo ela nunca mais seria minha amiga. Depois até pedi desculpas, num papo de bêbada emotiva com direito a abraços e declarações do tipo "te considero para caralho" e tals.

Pois, passados quatro meses de felicidade no meu flat, estarei mais uma vez no olho na rua. Agora quem me fodeu foi a Air France, que se recusou a adiantar minha passagem e, tendo que sair daqui quando meu contrato acabar no início de agosto, adivinha onde vou parar? Coitada da amiga...

Mas a cereja do bolo é: adivinha de quem é a culpa de eu ter que sair do apartamento? Um doce para quem acertar... Do BABACA do meu flatmate, o mesmo que rendeu tantas reclamações no blog e Facebook. Tudo volta, não é mesmo?

O babaca do John foi passar as férias de julho em casa, em Kent, onde segundo suas próprias palavras "my mom is going to feed me". How sad is that? Mas saiu dizendo para o landlord daqui que a partir de agosto ele gostaria de alugar todo o flat por um ano e escolheria os outros dois flatmates (uma vez que eu e a outra menina sairíamos). Pois bem, arrumei uma amiga brasileira que vem morar em Londres para alugar meu quarto e eu poderia ficar aqui até ela chegar, que calharia certinho com a época que eu iria embora. Só que depois de uma mês comendo a comidinha da mamãe, John resolve na semana passada que não volta a Londres, que prefere vir todo dia de Kent para cá para estudar e não quer mais sair da barra da saia da mami. Quem se fodeu? Eu, a menina que vinha e o dono do apt, que teve de contratar às pressas uma agência para procurar outros interessados.

Não é mole, não, viu? Mais quatro noites na casa da amiga antes de finalmente regressar ao Brasil. Dessa vez melhor eu comprar um presente pra ela, né?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A equação do ex

Ontem estava na loja e chegou uma cliente toda aflita. Ela tinha comprado uns produtos comigo no dia anterior e estava nervosa querendo saber se tinha passado tudo certinho no rosto. Respondi que estava ótimo, olhei bem de perto, tipo como se fosse expert no assunto, com expressão séria e dei o veredito: sim, tá linda!

Aí ela explicou que estava nervosa porque dali a uma hora ia ter um date, "o date", o date mais importante EVER, segundo ela. Mandei na lata: "é com o ex?". Ela me olhou muito surpresa e perguntou como eu tinha adivinhado. "Elementar, minha cara: perfeição a gente só quer para passar na cara do ex". Se você vai a um date normal, assim, com um cara que você ainda não conhece, você quer parecer bonita, esperta ou inteligente (ou tudo junto), mas meio que você quer ser você mesmo. É meio que isso aí, a mensagem é "o pacote é esse, curtiu?". Agora, se o lance é encontrar o ex as mensagem são várias e muito complexas, principalmente se é caso de pé na bunda ou reconquista. Você quer é sambar na cara do sujeito, mas com classe, estilo que Viviane Araújo sempre prega, "sensual sem ser vulgar" (um caso clássico de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, não é mesmo?)

Tudo tem quer meticulosamente pensado. Não dá para chegar super feliz e ocupada e cheia de vida porque é óbvio que é fake. Não dá para usar um decotão ou saia muito curta porque entrega o desespero, maquiagem muito pesada significa que ficou muito tempo se produzindo, cara de cachorro que caiu da mudança gera pena... A equação é complexa. Como eu disse para a sujeita, "been there, done that", simpatizei com a causa e começamos juntas a analisar cuidadosamente toda a produção. Ela estava com uma roupa ótima, nada muito over, super chique, elegante, mas casual (pensa que é fácil atingir o resultado?). Ajudei com o make, fizemos somente uma pele perfeita, um blush saúde e nada mais. Tadinha, ela estava tão insegura, me apeguei.

Quando acabamos ela ficou contente e prometeu voltar na loja para me contar como foi. Tô na torcida. Não é fácil arrumar homem em Londres, gente. Tadinha

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Verão? Onde?

Antigamente a parte boa de se morar em Londres é que você ganhava muito mais do que toda a Europa, aí quando viajava era a pessoa mais rica do camping. Agora nem isso mais existe, outro dia fui para Lisboa e na hora de trocar minhas ricas libras por euro ficou elas por elas, 165 pounds viraram 160 euros! Pô, tá de sacanagem, né? Isso aqui não era para ser uma puta moeda forte?! Azedei, mas tudo bem, Portugal tá na merda, lá é tudo baratinho e continuarei sendo a rica do camping. Só que aí você chega em Lisboa e vê aquele céu azul, nenhuma nuvem, calor civilizado de 26C, ventinho refrescante, praia, peixes bem temperados, pessoas falando português, toda uma vida simples de táxis que custam 4 euros e pensa: tem alguma coisa muito errada com o verão inglês.

Na boa, tudo bem chover, tudo bem uns dias mais frios, tudo bem que não existe a possibilidade de não usar meia-calça a noite, tudo bem o taxi custar 20 libras, tudo bem o peixe ter gosto de sabão, mas aí pelo menos vamos fazer uma moeda que valha todo esse sacrifício, né não?!

Eu tava meio conformada com o clima daqui, sabe? Tava já naquele modo "ah, tá quase calor, 20C é quente, poxa", mas ir a Lisboa e ver aquelas praias lindas, aquele gente bronzeada mostrando seu valor me fez muito mal. Esfregaram a alegria de viver na minha cara, sambaram na minha modesta felicidade por ter saído do inverno. Deprimi

 Such a nice weather, inn it?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pertence, não pertence

Tem uma coisa que me incomoda aqui para caramba (só uma? vocês pensaram) que é o fato de eu não ter um lugar meu, sabe? Não, não estou falando de casa própria, mas sabe quando você tem o "seu" bar, a "sua" barraca na praia, o "seu" café? Pois é, não tenho nada disso aqui. Até tem uns pubs que eu frequento mais e tals, mas não a ponto de chamar de meu. Mesmo o pub aqui em frente de casa só devo ter ido uma meia dúzia de vezes (falta de companhia é foda).

Tava ontem num café que adoro num dos meus lugares favoritos daqui, em Bricklane, e pensava nisso. Tava na calçada numa mesa, sozinha, tomando um café e fumando um cigarro e pensando nisso e observando as pessoas. Daí me dei conta que não tinha muito sentido esse sentimento de "não pertencer" porque afinal de contas aqui é uma grande conferência da ONU e acho que nem 20% do povo que mora aqui é really Londoner.

Mas aí me toquei que o grande lance é que nunca me senti em casa aqui. Outro dia tava conversando com um amigo brasileiro e perguntei quando ele pretendia voltar para o Brasil e ele respondeu que não pretendia voltar, pois "Londres agora era a casa dele, sabe?". Não, não sei. Mesmo. Essa é um conversa recorrente entre os brasileiros que moram aqui, "quando vc volta?" e a resposta dele é a que mais ouço: "cara, já moro aqui a x anos (um, dois ou dez), aqui agora é a minha casa". Eu acho isso esquisitíssimo, juro! Por outro lado, outro dia conversava com outra amiga, o mesmo papo, e ela disse que não sabia se conseguiria voltar para o Rio pois já morava fora há muito tempo, mas em países diferentes. Ela disse que invejava a minha certeza de que o Rio era o meu lugar e minha vontade inabalável de voltar para casa. E eu achei engraçado isso, pois foi um ângulo que nunca pensei. De repente ela tem uma sensação bem pior, que é o de não pertencer a nenhum lugar. Ao passo que eu não tenho a menor dúvida que o Humaitá é o melhor lugar do mundo (e o melhor bairro do Rio, como todos sabem ou deveriam saber).

Mas vai ver que é como um paulista que trabalha comigo aqui diz: "carioca não fica em Londres. Pode ver, se é brasileiro morando aqui carioca não é. Vocês não aguentam ficar longe da praia"

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O verão e moda jovem (que como todo munda sabe, tá cada dia mais...)

Enfim chegou o verão em Londres,  e junto com a estação mais quente (ou menos frio) do ano podemos observar a estranha mutação nas vestimentas das moças europeias. Calor não é muito o forte das gringas e ouso dizer que elas se atrapalham um pouco nesses três meses de sol.

Como bem ensinou minha professora da pós, "when you see something once, it's new, if you see twice it's coincidence and if you see three times, it's a trend". Partindo desse princípio podemos afirmar que laranja é o tom de pele tendencinha. Como negócio de sol aqui é meio raro, bronzeamento artificial bomba. Vale tudo, creme, cama de tanning, jet, até coca-cola. O importante é atingir aquele tom de pele horroroso que entrega na hora que você não esteve numa praia paradisíaca nas últimas semanas.

Também sou obcecada com as maquiagens. Não que elas não exagerem o ano todo, mas, amiga, tira essa argamassa do rosto pois tá quente e não tá ornando. Além do tanning, é importante usar muita, mas muita, base, de preferência uns dois tons acima do seu e deixar o pescoço de outra cor. Aí manda ver nas camadas para ficar beeeeem coberto tudo e esconder todas as imperfeições da cara (NOT). Aí, não importa a hora da manhã, mas elas estarão lá de cílios postiços, muito rímel (óbvio), muito lápis preto, muito blush e muito batom. Entendeu o esquema?

As unhas são um fascínio à parte. Primeiro que elas precisam ser postiças e enormes (claro) e com desenhos, apliques, cores sem sentido, um horror. Daí tem as roupas. O lance dos looks são as camadas, muitas camadas, shorts mini, com camisetas por baixo de outra camiseta por cima, um casaquinho, um cinto, colares, bota (oi?) ou havaiana (sempre na ordem e momento errado) e sei lá mais o quê.

A única coisa que realmente invejo é a criatividade capilar. As inglesas são ótimas com os penteados e cortes. Nunca é aquele cabelão comprido e sem graça que as brasileiras acham lindo. Mesmo quando o cabelo é comprido, elas inventam tranças, coques, texturas diferentes, cores... não tem monotonia. E dá-lhe tempo e produto para dar conta de tanta inventividade, mas os resultados costumam ser ótimos. Tô doida para tirar umas fotos dessas mocinhas no metrô, mas tenho medo de tomar porrada.

Em breve, fotos por aqui.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Minha celebração

Daí que na última sexta eu terminei a pós. Entreguei de manhã o meu projeto e fui trabalhar. As calhega do curso queriam comemorar mais tarde e eu estava em dúvida se deveria ou não me juntar às loucas.  Quando saí do trabalho chovia e fazia frio (verão de Londres é just sensa), dei uma passada na loja da Apple para checar os e-mails e descobrir o que as moças propunham (pq quem não tem smartphone checa e-mail na loja da Apple quando está na rua).

Gente, a ideia "genial" das gringas era comprar uma camiseta do London College of Fashion (faculdade onde fiz a pós) onde se lê "Better dressed than you since 1906" (oi?) e partir às 17h para um pub crawnling. Ahan, Claudia, senta lá. Olha a minha cara de quem vai gastar 10 libras numa camiseta cafona dessas (onde fica claramente NA CARA de quem usa que essa pessoa não se veste vem bem nem em Londres nem em Nova Iguaçu) e ficar pulando de bar em bar, debaixo de chuva, com um bando de pós-adolescentes histéricas e bêbadas. Não pensei duas vezes, tomei um trem e fui ter com minhas amigas, essas sim pessoas sensatas, uma noite regada à pizza, vinho e clipe dos anos 80 (década que minhas calegas de curso não eram nem nascidas).

Fiquei depois pensando se não era muito esnobismo meu morrer de vergonha alheia sair andando pelas ruas de Londres com um bando loucas usando uma camiseta uó. Mas não, eu tenho certeza que não é um lance de entrar no espírito, é de não se sentir representada ali. Porque eu já saí com um bando de mulheres usando chifrinhos que acendiam numa despedida de solteira. Depois ainda paramos no Clube das Mulheres! Quer dizer, eu sei o que é entrar no espírito, saca? Mas, na boa, "better dressed than you since 1906" me pareceu meio too much. Principalmente se levarmos em conta o modelito que as colhegas desfilam, a massa corrida na cara (que elas chama de maquiagem) e o comportamento galináceo quando bebem. I mean, não orna, entende? Mandei a cláááássica desculpa da dor de barriga e acho que colou.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Esse jeito Jean Charles de ser

Outro dia eu estava no trabalho comendo um sanduíche na escada que dá acesso aos lockers dos funcionários e percebi que tinha uma brasileira falando muito alto (como sói de ser) no celular,  também na escada, mas uns dois andares acima de mim. Mesmo sem querer, comecei a prestar atenção na conversa e pelo sotaque e papo entendi que ela deveria ser do nordeste, deveria ter por volta de 40 anos e que trabalhava na loja como faxineira ou algo que o valha.

Como aqui em Londres só tem imigrante, todas as operadores de celular fazem promoções para ligações internacionais a preços bem ridículos, tipo 2 centavos o minuto e a vida do povo é falar com os colega tudo que ficaram. Pelo que entendi, a moça - vamos chamá-la de Maria – falava com uma amiga que estava no Brasil.

Maria desfiava um rosário sobre as dificuldades que vem passando em terras inglesas. Dizia que se soubesse como seria sua vida aqui teria dito para Jesus (não o Todo Poderoso, mas seu marido) que voltassem no mesmo avião que desembarcaram. O problema, segundo ela, era que Jesus não queria nada com a hora do Brasil e quando o bicho pegava em casa nenhum de seus filhos a apoiavam. E para piorar, Raniel (ou algo que o valha), seu filho mais velho, anunciou que vai sair de casa assim que completar 18 anos. “Porque aqui, comadre, é assim, os filhos saem de casa com 18 anos. Mas eu disse para ele, que ele só sai se arrumar uma mulher para casar”. O medo de Maria é que o moleque saia de casa e vire, sei lá, entregador de pizza, e ela não acha justo, uma vez que a razão dela ter vindo de mala e cuia para Londres era justamente dar uma educação boa para os filhos, para eles serem alguma coisa na vida.

Mas Jesus parece que não se dá bem com o moleque e, sem saco de trabalhar e sustentar ninguém, achou muito bom que ele saia logo de casa. Maria tava muito puta com marido e preocupada que a filha mais nova, de uns 13 anos, que não está muito boa no inglês. ( Claro, numa cidade onde 60% das crianças falam outras línguas como língua principal, não é de espantar). E Maria continua: “Você não sabe o que passei desde que cheguei aqui. Jesus nunca quis trabalhar, já eu venho para o serviço até com febre. Todas as roupas que tínhamos quando chegamos eram doadas e eu que tive que me virar para comprarmos uma TV e um DVD. Rezo toda noite para Jesus (aí sim, o filho do Homem) me ajudar a juntar dinheiro para voltar e comprar uma casa no Brasil”. Enquanto isso, ela revelou, Jesus (o marido) vai fazendo uns bicos aqui e ali.

Nessa altura eu já tinha terminado meu sanduíche há tempos e estava mega entretida naquela conversa e, confesso, meio deprimida. Neguinho é foda, né? Não quero partir para o clichê “homem é foda”, mas essa história me lembrou minha avó. A bichinha casou com meu avô contra toda a família, que dizia que ele era um vagabundo. Ela, coitada, caiu no conto e achou que ele seria um homem melhor quando fossem morar no Brasil.

Resultado, saiu de Portugal brigada com a família, deserdada pelo pai e foi ser pobre no Rio de Janeiro, uma vez que é claro que meu avô não mudou nada. E se o homem não curtia um trabalho em Portugal, o que dirá no Rio, com toda aquela abundância. Durante mais de 50 anos (sim, quase 60 anos disso) a velhinha reclamou do dia que casou com meu avô e foi parar no Brasil. A mágoa era tanta, que nem o fato de eu e minha mãe existirem por conta disso acalmava a velha. Morreu aos 100, reclamando ainda.

Para você ver, e ainda tem gente que reclama de mim...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

O assunto proibido

Eu fico meio assim de trazer esse assunto para o blog porque já tenho fama de escatológica e tals, mas é uma questão por demais polêmica para ser deixada de lado. Vamos lá, o peido em Londres é assunto sério. Dito isso tratarei de não usar mais essa palavra horrenda e tentarei eufemismos e similares.

Não sei se vocês estão por dentro, mas aqui em Londres as pessoas "se aliviam" em público sem o menor constrangimento. Menina, é um horror! Coisa de chegar em pub e de repente o ambiente ser tomado por uma catinga misteriosa e ser quase impossível respirar. Teve até o caso clássico do metrô, né? Que de tão absurdo nego achou que era mentira minha, mas saiu no jornal e tudo: um cara mandou uma brasa tão forte que a menina sentada do lado vomitou. Tá? Imagina o que aquele vagão não deveria estar?! Acho que as pessoas deveriam ser pelo menos mais solidárias, metrô é uma estufa, gente! Não pode não pensar nos outros assim, ser tão egoísta.

Outro dia eu estava num parque e senti um cheiro familiar, olhei para o lado e tinha um sujeito abrindo um potinho cheio de ovos cozidos. O snack dele tinha cheiro de podre, aí você pensa que se o negócio já tá entrando errado daquele jeito, imagina quando sair?

Mas aqui é assim e uma amiga conta que até uma conhecida dela que não sente cheiro nenhum (tem problema olfativo mesmo) passou maus bocados quando esteve na cidade.

Acho que tem a ver com os hábitos alimentares, bacon, ovo, cerveja, muito pepino e repolho não resultam num bom blend. Mas ainda assim ainda não saquei a parte da total falta de constrangimento de fazer "isso" em público. Me parece que de tão comum que é todo mundo fica à vontade porque sabe que ninguém vai saber de onde veio mesmo. E tem mulher metida nesse negócio aí também, porque eu já presenciei situações que não tinha escapatória, saca? Tipo, "minha filha, não adianta fazer cara de paisagem porque eu sei que foi você que peidou (oops) nesse vagão"

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre os relacionamentos (mera observação)

Muita gente me pergunta se aqui em Londres é fácil achar namorado. Olha, desse assunto estou meio por fora porque já vim fechada para balanço, comprometida com um cidadão brasileiro, mas posso dizer que, aparentemente, tá ruim para todo mundo. Isso é que as mulheres aqui reclamaram, mas não é disso que elas reclamam em toda parte?  ("não tem homem nessa cidade", seja a cidade qual for)

Bueno, aqui parece que o bicho pega porque os ingleses são muito, muito roda presa. Eu não sei bem o que acontece, acho que as inglesas também devem ser roda presa e por isso ficam reclamando. O lance é que se um inglês gosta de você ele vai demorar um ano para te chamar para sair e, depois que vocês saírem, vai levar outros bons seis meses para te beijar (segundo relatos). Tenho uma amiga brasileira que é casada com um inglês e diz ela que teve que dar 11 (ONZE!) pints para o sujeito até ele ter coragem de chegar junto de fato. Foda, né? E caro...

Bom, a minha teoria é que europeu é ruim de jogo para caramba (homens e mulheres). Os espanhóis são espertos, mas ingleses, alemães, holandeses... Tenho a impressão que tem a ver com o frio, a incapacidade de dançar, essa coisa de ser inimigo do ritmo acho que influencia também. E, claro, não podemos esquecer o espetáculo que são as inglesas quando bêbadas. Eu, fosse homem, ia cantar em outra freguesia também.

A situação está tão preta que as mulheres aqui partiram para a busca cibernética. A internet é o último recurso para as miss corações solitários e, dizem por aí, que lá o negócio corre bem.

Acho engraçado que fica essa lenga lenga toda para pegar, beijar etc, mas saiu duas vezes já está namorando e em três meses de namoro nego já está morando junto. Não tem papo, o povo aqui é prático. O contrato do apt vai vencer, não tô afim de procurar flatmate, é mais barato dividir conta em casal e vamos que vamos. Confesso que admiro isso, sem frescura. Outro dia estava comentado isso com uma amiga francesa e ela se assustou "ué, como são os homens no Brasil?".

Xiii Marquinhos, senta que lá vem a história. Falei: "Olha,  no Brasil você pode sair durante um mês com um cara, quase todos os dias, e se você perguntar, ele vai dizer que isso não é namoro porque ele não está preparado para um relacionamento".

Ela achou estranhíssimo.

Pois é.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Londres bomba

A paranóia em Londres é tão absurda que você começa a questionar  se, de fato, tem motivo para tanto. Volta e meia rola uma ameaçazinha de bomba e metrô e ônibus estão poluídos de anúncios de como proceder caso observar alguma movimentação suspeita ou pacote/mala perdidos. No metrô então é irritante, com aqueles autofalantes mandando você ficar sempre alerta, tenso.
O medo coletivo rende até umas histórias boas, como a da minha amiga,  que antes de voltar para o Brasil fez milhares de compras em Candem Town para presentear a família. Saiu de lá carregada de sacolas, aí uma amiga ligou e emendou num pub ali perto para umas pints. O povo foi chegando e deram idéia de ir para outro bar e ela foi indo, indo e quando estava pegando o night bus para ir para casa (3h30 da manhã, hehehe) olhou em volta e deu falta das sacolas. Como ninguém é rico nessa bagaça, resolveu juntar as forças e refazer todo o percurso e tentar achar as sacolas. Claro, ideia de bêbado.

A menina tá lá já no outro night bus, voltando tudo de novo , passa num ponto de ônibus e pá, estão lá, intocadas todas as suas compras. Imagina isso no Rio? O ponto cheio de gente, cheio de gente bêbada e um bando de sacolas de compras intactas? Impossível! Aqui também seria provavelmente há uns 10 anos atrás, pré 11 de setembro, agora o medo se instalou e nego corre até de sacola “suspeita”.

Bom para ela, que teve uma história com final feliz, mas para mim só acho um saco. Ontem na loja de departamento que eu trabalho teve ameaça de bomba. Sabe como é, Obama na cidade e tudo a ver explodirem um bando de dondoca capitalista, vai saber. Aí passam os seguranças mandando a gente checar nossos counters em busca de algo suspeito. Como assim, Bial? Algo que pareça uma bomba? Mas gente, se nego aqui não deixa a gente nem embarcar com uma shampoo de mais de 100ml porque aquilo pode ser algo potencialmente letal, como saber se tem uma bomba no meu counter?

Porque pelo que eu entendo dessa lógica do shampoo, cremes e garrafas d’água, tudo pode ser uma bomba. Quem me garante que o terrorista não plantou uma bomba igualzinho ao creme de bronzear que eu vendo?

É muita pressão.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Estrangeira entre os estrangeiros

Não consigo me acostumar com o fato de entrar num ônibus aqui em Mile End e ser a única mulher que não veste burca. Ok, não é burca, são aqueles véus pretos que cobrem o corpo todo, a cabeça e deixa só os olhinhos de fora, tipo umas ninjas árabes. Pois é, é assim. E os homens usam uma espécie de saia com uma touca e de crochê na cabeça. Às vezes eles estão de "civil", mas são sempre babacas com as mulheres. Pois é, eu vivo no meio desse povo e, posso falar?, curto não. A recíproca é verdadeira porque as mulheres não ousam olhar para qualquer lado e os homens claramente me consideram uma puta por deixar meus cabelos e braços à mostra. Eu não gosto deles porque eles não são educados, tratam mulher como lixo e muitas vezes eles te assediam de maneira escrota.

 O nome disso aqui é harassment, e têm deixado as mulheres daqui muito preocupadas, algumas estão fazendo campanha contra e tudo. Pq não é como a cantada do pedreiro no Brasil, que manda um "gostoooosa" ou algo do gênero. No Brasil esses caras que mandam essas cantadas não esperam resposta, eles só querem falar. Aqui o harassment é bem caído, com o cara andando do seu lado e perguntando coisas: "e aí, tudo bem? como vc está? quer me conhecer?". Ele quer que vc repare nele e isso me deixa muito puta. Óbvio que não vai acontecer nada, mas eles fazem isso pq sabem que vc vai ficar assustada. Na minha vizinhança nem rola muito disso, mas se você for para Whitechapel, por exemplo, vai encontrar com mais facilidade.

O lance é que essa galera se sente muito mais dona do pedaço do que os próprios ingleses. Em Whitechapel tem o banco islâmico, as lojas são escritas em árabe e quem não for árabe está completamente fora da situação. Na boa, detesto aquele lugar.

Então, segundo minha percepção a coisa de divide mais ou menos assim: Mile End e Whitechapel dominado pelos árabes (que ainda fedem, mals aê a xenofobia, mas tô nos cascos com esse povo. Na vendinha eles sempre querem te passar a perna).

Bethnal Green e Bricklane têm muito árabe, mas é mais indiano ali. Só reparar nas lojas de roupas e comida. Muito sári, muito curry. Não me incomodo com os indianos.

O sul tipo Brixton é dominada pela Africa. Lá em Peckhan, por exemplo, branco é raridade e é comum ver agência de turismo vendendo pacotes para Serra Leoa e Nigéria. Já onde eu morei, em Battersea, e onde uma amiga mora em Lewisham (ambos no sul) é mais comum caribenhos. Muitos jamaicanos. Os caribenhos que moravam no meu antigo prédio gostavam de jogar o lixo pelo corredor do prédio. Pois é...

Já em Vauxhall a comunidade portuguesa domida, com muita vendinha com produtos da terrinha. Também tem muito gay (não sei como essa mistura se deu).

O west é totalmente dominado pelos ricos, proper english people. O norte eu não conheço muito, mas tb me parece bem inglês.

A misturada de gente é um dos pontos fortes de Londres e, sem dúvida, é isso que deixa a cidade mais interessante, mas quando as pessoas vêm morar num outro país deveriam estar mais abertos a absorver essa cultura, né? Se fechar em gueto não me parece uma boa opção. É como eles dizem, when you are in Rome...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Teorias sobre o verão

Estou com uma sensação que acabei de sair de uma TPM de três meses e finalmente as coisas estão voltando para os eixos. Acho que é por isso que os ingleses ficam tão debilóides durante a primavera/verão, o sol e o calor (ou o frio moderado) fazem a vida ficar bem mais viável. É indescritível a sensação de fumar um cigarro acompanhado de sua cerveja numa mesinha do lado de fora do pub sem congelar a sua bunda. Sair andando pela rua sem se preocupar com o constante nariz vermelho que teima em escorrer. Melhor, sair só com um casaco (UM!!!!!) que não pesa uma tonelada, dar folga às botas... Como diria o Rei, são tantas emoções que nem vale a pena citar todas as óbvias benesses desta época do ano.

Mas como felicidade de imigrante dura pouco, é claro que já me alertaram umas cem mil vezes para não get too excited sobre o clima que já já o cinza volta a reinar na cidade. Ai, depois falam de mim, mas aí, na boa, inglezada mais roda presa! Pô, curte aí o sol, aproveita para fazer farofa no parque como vocês curtem, né? Pensa nisso agora, não. Mas é assim, toda vez que comento como estou feliz com o tempo, vem alguém cortar meu barato e revelar sua própria teoria sobre o "verão" londrino (entres aspas pq quem é do Rio sabe que verão não isso aqui, né gente?!). Tem os que dizem que quando faz sol em abril e maio é porque vai chover e fazer frio em julho e agosto. Se fez para mais de 23C (como aconteceu há duas semanas) é prenúncio temporal e temperaturas siberianas para os próximos dias. Se está sol há cinco dias seguidos significa que nunca mais haverá outra semana de tantas dias bonitos seguidos novamente... E assim vai.

A minha teoria pseudo-psicanalista sobre esse apanhado de teorias é que os ingleses têm medo de se frustrar. É tamanha a depressão que toma conta e suas vidas nos meses de outubro até abril que eles têm dificuldade em assimilar que pode, de fato, existir outra estação do ano que não o inverno. Porque deve ser foda mesmo você esperar o ano todo pelo verão e quando ele chega durar só uma semana e acabar, daí o medo de "gostar"demais, sacou? É tipo aquele namorado que termina com você, parte seu coração em pedacinhos e depois pede para voltar e diz que finalmente descobriu que te ama. Você não mais acreditar totalmente nele, né? Ou pelo menos vai demorar até a confiança se restabelecer. É isso, os ingleses, por algum motivo que eles nunca entenderam, pois nunca fizeram nada muito errado, tomaram um pé na bunda do verão e agora custam a acreditar nele de novo.

sábado, 30 de abril de 2011

Essa merda toda

E não é que o merdinha do flatmate deu a volta em mim? Eu crente que ele tinha posto a japinha dele para lavar o banheiro e era tudo mentira?! Tipo um encenação para mim? Ela gritou alto para ele que ia ensila-lo a lavar o banheiro, mas não passou disso.

Mermão, tô há quase três semanas enchendo a porra do saco do péla-saco para ele limpar a porra do banheiro e ele se faz de imbecil. Eu já até limpei na frente dele para provar que a mão não caía. Essa semana fui fofa e falei que limparia a cozinha e ele, por favor, limparia o banheiro. E sabe o que o puto respondeu? "Ah, ok, thanks". Thanks? Pq, por ser sua babá? Cara, fiquei tão puta!!!!!!!! Porque isso foi há 3 dias!!! Aí hoje vou tomar banho e a banheira/chuveiro tá cheia de cabelo da Samara (a namorada dele que não se chama Samara e nem é japa, mas dá igual pq ela é da Malásia e eu tô me lixando para isso).

Ok, declarei guerra. Gosta de viver na merda? Então beleza. Adotei a postura "deixa a merda aí" e quando eu digo merda, meus amigos, é merda mesmo. Vou deixar merda boiando no banheiro, panela suja na pia, pentelho no sabonete alheio, calcinha secando na sala e por aí vai. Ué, quem limpa tudo não sou mesmo? Então é isso aí.

Ó, semana que vem festinha aqui em casa, não se acanhe, vem fazer merda aqui, é bom, é gostoso, é de graça. Se tiver de bobeira em Londres...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Isso aqui é Brasil

Ontem foi mais uma daquelas noites que não era para eu ter saído, mas como era um programa com as meninas da pós que eu nunca vejo, nunca vou nas paradas que elas combinam, fui lá no tal pub que elas estavam. Obviamente bebi para caralho e obviamente no fim do noite estava sem um puto.

Sem grana e sem saúde para rumar para o seguinte bar, rumei para o ponto de ônibus mais parto. Claro que assim que eu cheguei no ponto o ônibus tinha acabado de passar. Ok, só esperar 20 minutos, 3h20, até o próximo. Só que o lugar tava sinistrinho, àquela hora da madruga não tinha ninguém por perto e quando aparecia alguém era um alguém bem sinistro. Resolvi ficar andando até a esquina e voltando, para dar a impressão que estava procurando alguma coisa, sei lá. Numa dessas, dois caras param no ponto. Dois caras estranhos, devo dizer. Avistei um cara com aparência confiável lááá na esquina, não tive dúvidas, acenei e fui até ele. Ele tava comendo um sanduíche não entendeu nada quando percebeu que não me conhecia: "Pô, foi mal, não te conheço, não, mas estava ali no ponto de ônibus e achei aqueles caras estranhos aí vou fingir que sou sua amiga tá?"
Ele me olhou muito desconfiado e mandou eu ficar tranquila que a cidade está cheia de câmeras espalhadas e que eu iria ficar bem e agora dá licença porque eu vou encontrar minha namorada. Olhei de volta para o ponto e os tais caras tinham ido embora. Resolvi ficar andando que nem uma louca para cima e para baixo, atrevessando a rua e fingindo ligar para alguém. Quem olhasse de fora certamente pensaria que eu estava altamente drogada e tendo alucinações de perseguição. Mais doida que o Bruno Gagliasso naquela novela que ele fazia papel de maluco.

Nisso passaram os vinte minutos e vi  lá da esquina o ônibus chegando, olhei para o ponto e tinham outros dois sujeitos estranhos lá. Vim correndo da esquina, e alcancei o ponto bem na hora que o ônibus parou. Entrei na frente dos dois sujeitos, paguei e fui me sentar no meio dos hispters, jovens e descolados, que lotavam o N8. Porque em East London é assim, qualquer hora da madrugada os ônibus estão lotados de dickheads, muito coloridos, muito mudernos, muito bêbados e muito novos.

Nisso eu notei que o ônibus ainda estava parado e que os dois caras estranhos que entraram depois de mim estavam discutindo alguma coisa com o motorista. Aparentemente eles não tinham dinheiro para a passagem. Só ouvi um deles gritar com o motorista: "You're very stressed (oi, vc quem tá gritando?), you should go home and fuck your wife!". Nisso eles desceram do ônibus e o motorista fechou a porta na cara deles. Daí, só ouvi um barulho: o cara que gritou deu um chute na porta, que se espatifou no chão em mil caquinhos e os dois saíram correndo pela rua.

Geral bolado, o motorista sai da cabine e manda todo mundo descer e esperar o próximo lotação porque ele teria de ir para a garagem. Caraca! É sério isso? Mais vinte minutos nesse ponto?! Pelo menos agora era uma galera mega reunida no ponto. E as pessoas desciam do ônibus muito putas e mandavam um "thanks a lot"para o piloto como se a culpa fosse dele de um filho da puta ter chutado a porra da porta. Fiquei com pena do piloto. Bom, nessa altura já eram quase 3h30 e já que teríamos de ficar ali pelo menos mais vinte minutos, tratei de garrar coleguismo com ma francesa que estava do meu lado e um indiano (que pode ser de outro país, mas achei que tinha cara de indiano). Comecei a enrolar um cigarro e a francesa pediu um, daí o indiano imitão pediu outro. Cedi um para a francesa e o restinho do meu tabaco para o cara e avisei: "sorry, acabou o filtro, vai ter que fumar sem mesmo". Aí não é que o cara me vira com uma "ah, mas eu queria um filtro"....

"Mermão,  eu não queria estar aqui e não queria dividir meu resto de tabaco com vocês, então bora baixar as expectativas porque tá ruim pra todo mundo".

Eis que surge o novo ônibus e geral entra. De repente começa uma discussão, aparentemente uma menina se recusa a pagar novamente pela passagem pois gastou a grana no tal fatídico primeiro ônibus. Nessa hora eu rezei e falei alto: "please, not again". Aí o cara do meu lado manda: "Cara, tá tipo aquele filme "o dia da marmota". Ri alto, ri para não chorar, sério, aquilo não tava mais maneiro. Graças ao bom Deus a menina entrou e o ônibus seguiu caminho.

Mas eu juro, nunca mais saio sem o dinheiro do táxi. Nem que isso me custe o orçamento da semana

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mandando o calling sick

Aí a pessoa acorda com o pé torcido sem conseguir encostá-lo no chão e liga para o trabalho avisando que não vai rolar de ficar 8h em pé vendendo produto de beleza para peruas desocupadas. O chefe atende e depois de ouvir todo meu drama ele manda:"ok, enjoy the sunny day". Me deu uma revolta, sabe? Como assim "nejoy the sunny day" num acabei de contar o maior drama do século? Não falei que estou a caminho do hospital e que mandarei notícias fresquinhas contando tin tin pot tin tin tudo que o doutor falou?

Depois eu me toquei que realmente no dia que Londres marcou incríveis 28C, o dia mais quente de uma primavera londrina em décadas (e sério, nunca antes na história deste país houve um dia tão quente em abril), no meio de um feriadão histórico a pessoa manda um calling sick é ruim de engolir mesmo. Dei um desconto e parti mancandinha para o Royal London Hospital, que apesar do nome pomposo fica em Whitechapel um dos bairros mais horríveis desta cidade. Mals aê o prconceito, mas é cheio de gente feia, pqp!

Menina, o hospital tava mais quente que Bangu no verão sem os ventiladores de respingo. Zente, como um hospital não tem ar condicionado? Senti vários vírus e bactérias se proliferando ali. Daí cheguei na fila dos pequenos traumas no meio de 800 burcas e árabes maletas que ficam colados em vc na fila (gente, nunca vi uma coisa assim, esse povo adora um calor humano). Estava tensa porque ainda não sou registrada num GP aqui e sabia que isso poderia dar a maior merda, mas a mulher só perguntou meu endereço e eu disse que era estudante e ela pareceu ficar satisfeita com essa resposta.

Fui para o banquinho esperar minha vez de ser atendida e surpreendentemente foi chamada em 15 minutos. O médico olhou meu pé, virou, mexeu aqui e ali e mandou: "olha, tem nada, não. É negócio de esperar passar e tomar alguma coisa para dor, caso doa". Ele perguntou se eu tinha alergia a algum medicamento e quando viu a extensão da lista tomou um susto e perguntou por que eu era alérgica a tanta coisa (eu hein). Respondi que não sabia e ele me mandou o clássico paracentamol. Fiquei muito emocionada quando ele disse isso, pois sempre soube ser um clássico tratamento da medicina inglesa. Serve para tudo, de apentidicite à infecão urinária.

Devidamente medicada rumei de volta para casa. E não é que o maldito pé ficou bonzinho na mesma hora? Juro! Aí pensei, já que levei a fama, vou deitar na cama, pq não um passeio e piquenique no parque nesse amazing sunny day, né não?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pelo direito de reclamar

Correndo o risco de soar repetitiva e chata, veio por meio deste post levantar minha bandeira em prol da liberdade de reclamar. Muita gente que lê esse blog e meus posts no Facebook depois vêm falar comigo que eu reclamo demais, sou resmungona e "poxa, mas você está em Londres, aproveita". Olha, numa boa, sem querer ofender, eu queria pedir para todos vocês irem passear, plantar alfafa, e outros eufemismos.

Tudo bem, agora tá rolando um veranico, a grana tá entrando (de leves, mas rola tomar umas cervejas no pub), estou instalada, os amigos estão vindo visitar etc. Mas no começo tava uma merda, se vocês querem saber. Eu queria voltar para o Rio todo santo dia, tinha crise de choro, engordei enchendo a cara de chocolate, enfim. Cheguei no meio de um frio do caralho, sozinha, sem amigos, sem namorado (que deixei no Brasil), sem grana, tendo que procurar trabalho e lugar para morar. Passei mil perrengues (vários relatados aqui no blog, pode dar uma procurada caso se interesse) e a único lugar para desabafar era aqui, no FB e via skype com amigos e família. Então meus queridos, "para de reclamar" é o caralho, porque se tem uma coisa nessa vida que é de graça até aqui em Londres é isso. Eu reclamo mesmo, ok? Sou portuguesa, venho de uma linhagem de gente chata para caraleo que adora resmungar e neguinho só lê essa merda aqui porque eu me fodo para cacete nessa cidade e depois conto tudo aqui.

Essa inglesada é chata mesmo, essas meninas têm a voz insuportável, eu não tenho grana para comprar meu cacarecos nem na H&M, minhas colegas são um bando de histéricas, essa porcaria de tempo não ajuda (na maioria das vezes), portanto me dou o direito de reclamar, sim! E se você acha que Londres é o país dos Moranqguinhos, sugiro chegar aqui em novembro, num clima bem escroto, com mil libras na carteira e sem lugar para morar e nem emprego, mas ó, não vale me ligar, não, tá?

E tenho dito!

domingo, 24 de abril de 2011

Poesia do pé quebrado

Sabe aqueles dias que você sabe que não deveria ter saído de casa? Pois é, na quinta foi isso. Tava indo encontrar amigas que eu não sabia se queria encontrar para gastar uma grana com cerveja que definitivamente não valeria a pena gastar. Dai que já na saída os céus me mandaram a mensagem e atravessando a rua, virei o pé, tomei o maior tombo na história e torci o tornozelo. Caí no meio da rua mesmo e um cidadão teve me ajudar a me sentar no meio-fio e eu ao invés de agradecer só gritava"Fuuuuck, fuck!!!!!!!!!!!!!", segurando meu pé. Um horror! Não satisfeita, segui andando rumo à cerveja, nem tava doendo muito. Chegando no pub, encontrei as amigas e o lugar tava um saco, tomei a cerveja contrariada pq nem me deixaram terminar e elas queriam sair dali rápido, pq era uma merda etc etc. Rumamos para a casa de outra amiga, andando, o tornozelo começou a doer. Elas decidiram que iriam a uma festa e eu que rumaria para casa. Elas chamaram um mini cab para elas e outro para mim. Ok, pensei, estou do lado de casa e vou pagar uns 7 pounds. No máááá'ximo.

Pois eu entre no taxi, o cara andou dois quarteirões, parou na porta da minha casa e disse: "11 pounds" "Whaaaaaat???". Amigo, cê tá louco eu poderia vir apé, só não vim que meu pé da fudido, quequeisso? Aí o cara ficou insistindo, que era o preço e blábláblá.

Pausa para explicar o conceito de mini cab: seguinte, temos o black cab, o tal taxi clássico londrino, aqueles carros maneiros que vc para no meio da rua e que custam os olhos da cara e tem os mini cabs, que são taxi de cooperativas cujo o preço é pré-combinado antes e normalmente bem mais em conta do que os taxis. Só que tem muito mini cab sem licença e não raro aparece nos jornais histórias de motoristas de mini cab que estupraram e roubaram passageiras. Então, na night, é só black cab. Mas ali estava eu, na noite que claramente eu deveria ter ficado em casa, nas mãos de um motorista de mini cab.

Voltando: Falei para o moço que só tinha 8 pounds (mais pura verdade) e que nunca iria imaginar que seria roubada daquela maneira. Ele insistia de um lado, eu do outro, até que comecei a chorar e abri o berreiro mesmo. "Porra, meu pé tá doendo para caralho, eu nem deveria ter saído de casa, eu nem queria pegar taxi, eu queria ter andando" Enfim, uma ladainha tão mala que o homem mandou eu saltar fora do carro dele.

Cheguei em casa chorando para caralho, subi as escadas de gatinho até meu quarto e meu pé parecia que estava pegando fogo de dor (existe isso?). Sei lá, doía para caralho e eu sou alérgica a todos os remédios então tomei um relaxante muscular que uso para a dor da bacia e botei o pé para cima. Adormeci igual a um bebê e o pé, no meio da madrugada, parou de doer. Pensei que no dia seguinte teria que enfrentar o terrível sistema de saúde público inglês e acho que dormi mais rápido para evitar pensar sobre isso

domingo, 17 de abril de 2011

O "drama" do Nuvaring

Tem uma amiga que acha a maior graça do universo o meu pedido para os amigos que vêm para Londres: uma caixa de Nuvaring. Primeiro vem a pergunta: "Nuva o quê?", em seguida: "é só chegar na farmácia e pedir? Eles sabem o que é?"

Sim, vende na farmácia, é muito fácil de achar e é o meu método anticoncepcional.

A pessoa vai lá compra e depois me fala: "tá dizendo 'anel vaginal' na caixa, é isso mesmo?". Sim, é isso. Eu não posso tomar pílula e optei por um método mais "intenso".

"Olha, comprei, mas o cara disse que é para deixar na geladeira, precisa?" Não, não precisa a não ser que você pretenda passar uns dias no Saara antes de vir aqui.

Bueno, depois de 800 e-mails trocados com tudo explicadinho a pessoa vai lá, compra e chega em Londres com o dito cujo. Aí liga, diz que chegou e combinamos de encontrar: "Ó, não esquece o Nuvaring!"

Aí rola desencontro e ligo para a tal amiga e comento aflita que preciso encontrar logo o fulano para pegar o Nuvaring, que ele trouxe, e bláblablá. E ela morre de rir, "cara, você e esse eterno Nuvaring, parece piada, todo mês é a mesma coisa".

Mas gente, eu fico menstruada todo mês, né? Ainda bem! E ainda bem que o fluxo de turistas amigos está intenso, porque pedir anel vaginal para desconhecido é meio chato. Já fiz, mas é meio chato.

Além disso, o que mais eu poderia pedir? Cachaça? Marlboro Light? Remédio dessa o encarregado da encomenda com um sentimento maior de responsabilidade e dá até uma importância maior à pessoa, né? "Ela me pediu para eu levar o remédio dela, seu anel vaginal, isso significa que ela confia em mim". E é verdade, não é algo que se peça à qualquer um, como eu disse, fica chato.

Então galera, já sabe, né? Se tiver alguém vindo...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

De repente 30

Hoje é meu aniversário, faço 30 anos e ainda não tenho opinião formada sobe o assunto. Quando eu era mais nova eu achava que casaria aos 26, teria filho aos 27 e aos 30 estaria super bem estabelecida em minha carreira, possivelmente sendo chefe de alguém e com um estagiário para servir de esparro.

Bom, basta dizer que não casei, não tenho filhos e no momento vendo maquiagem numa loja de departamento. Claro, claro (antes que me joguem pedras), eu estou em Londres cursando a pós-graduação de jornalismo de moda e comportamento mais foda do mundo. Eu sei...

Mas é que pensar que abandonei os 20 é triste, sabe? Pô, 30 anos e o que ganhei? Um recém-adquirido vício em chocolate que na certa vai me trazer alguns quilos de rebarba. Tá certo que 30 anos é tendência (menos aqui em Londres, aqui tendência é ter 23 com cara de 30) e tudo vai ficar mais fácil ano que vem.

É só porque eu realmente não achava que esse dia ia chegar, sabe? Igual eu achava que nunca lavaria um banheiro na vida. Meus sonhos foram pelo ralo. Confesso que prefiro envelhecer à lavar privada, mesmo que seja a minha. É só porque me acostumei a ser sempre a mais nova dos meus amigos e de repente eu também fiquei mais velha, e as colegas do curso acham bizarro eu ter 30 anos porque elas têm 23 (como eu disse, é tendência).

Enfim, tudo isso porque paniquei, vi minha primeira ruga dando sinais bem no meio das minhas sobrancelhas, onde eu curto franzir o cenho. Nem isso mais eu posso fazer, franzir o cenho, à fim de evitar que a ruga fique mais profunda. Como vou fazer minha clássica expressão de emburradinha da estrela? Ou como fazer ares de desdém levantando uma sobrancelha só?

Tá vendo? São infinitas as questões que cercam os 30 anos. Tô arrasada

domingo, 10 de abril de 2011

Sobre a night e seus estranhos frequentadores

Das coisas que mais me impressionam aqui é o nível do povo depois de algumas pints. O povo não bebe para se divertir, bebe para ficar na sarjeta. Os indícios são claros, sábado e domingo de manhã é comum ver poças de vômito nas calçadas (sério, nunca tinha visto com tanta frequência até chegar aqui) e garrafas de vodka (ou sei lá o quê) vazias abandonadas pelas ruas. Aí claro, temos o advento do night bus, já amplamente debatido no blog e, finalmente os homens (e mulheres, muitas mulheres) em seu estado bruto.

Ir à um club londrino é testemunhar a degradação do ser humano. Não é que eu não beba, não me entenda mal, mas ficar daquele jeito eu não fico, não. Os homens ficam uber loucos para criar coragem e chegar nas mulheres e as mulheres ficam super loucas para perderem o jeitão vassoura no cu das inglesas. Aí bem bem, é um tal de tirar a roupa, mostrar peito, cair no chão (várias vezes) de perna aberta. O horror, o horror. Juro que nunca vi disso no Rio (assim, com essa frequência). Aí, claro, os homens ficam com medo e ninguém pega ninguém. Depois, sóbrias, elas se reunem e reclamam que homem é foda, que não pegam ninguém, que a night é o maior zero a zero. Poxa, amiga, perde menos a linha aê que pode ser que role um papo. Outra coisa que ajudaria é não cheirar tanto pó. Impressionante a capacidade nasal desse povo. Toda a noite funciona na base do padê e eu, que bebo só umas humildes latas de cerveja, óbvio, fico entendiada com tantos gritinhos estridentes e pessoas loucas do lado.

Aliás, o tom de voz da inglesas é um capítulo à parte. cara, só vozinha fininha e um jeitinho muito bizarro de dizer "hello" ou "byyyye" (assim meio arrastado) que parece muito que elas estão te zoando. Demorei para entender que era só o jeito do povo de falar. Chaaaaaaaaaaaaato. Ok, eu tenho pinimba, mas vai aturar uma louca berrando do seu lado,  pagando mico doidona ameaçando tirar a roupa...

terça-feira, 5 de abril de 2011

A difícil arte da convivência

Tava agora no metrô voltando para casa depois de umas pints bem felizinha da vida e, de pé, tava olhando um cara, árabe, cortando as unhas sentado. Daí tava pensando, "caralho, neguinho é foda aqui, muito nojento, né? Cortar as unhas assim, na frente de geral, no metrô, porra, espera chegar em casa" 


Ia perdida nesses pensamentos anti-semitas quando um maluco atrás de mim cospe no chão. É, no chão do vagão do metrô! Eu dei um passo à frente, de nojo, e vem um cara,  sentado meio que na minha diagonal, levanta, cola o rosto com o maluco do cuspe "did you just spit on the floor?". Caraca, deu gosto. Torci para um barraco, para começar a galera do deixa disso, mas nem rolou. Mas o cara continuou gritando "don't spit on the floor, man!"e gritou alto mais umas vezes na cara do árabe e -  acho que deu uns empurrões -  e voltou para o lugar. Eu, que estava meio de costas, curti horrores. Fosse no Brasil ia puxar assunto com a velhinha mais próxima e mandar "é, mesmo, tá certo"essa coisa que todo velho gosta de falar na fila quando os outros já compram a briga.


Mas pô, o ingles tava certo. Na boa, eu devo estar ficando meio racista desde que vim morar aqui, mas é foda. Quando tem gente fazendo merda, é sempre imigrante. Joga lixo na rua, cospe no chão, fala merda, emporcalha as paradas. Eu, fosse o inglês ia ficar puto também. Quer vir morar aqui, vem, mas respeita, né?


Eu moro em Mile End, que ao mesmo tempo que é um bairro árabe, dominado pelos muçulmanos (aqui os ingleses se referem a eles como asians. No Brasil asians é oriental, mas enfim) e ao mesmo tempo é um bairro cockney, do proletariado roots londrino, com aquele sotaque forte. Daí imagina: os cockneys são putos porque os imigrantes roubaram os empregos dele, mas ao mesmo tempo, os imigrantes dominaram o o bairro, mas ao mesmo tempo a juventude hipster escolheu o East End como o lugar dos descolados. Ou seja, moro numa guerra civil, numa miscelânia de informação onde todos convivem bem até alguém cuspir no chão. 


Porque na verdade ninguém se ama nessa merda. Meu vizinho, que é muçulmano, passa na porta na frente da mulher e do filho e nem segura a porta para eles. Acho escroto. Ao mesmo tempo ele deve achar que eu sou uma puta porque não uso véu e chego em casa bêbada... e a vida segue assim. Até alguém cuspir no chão.

As colhega tudo

O maior problema do meu curso são as alunas. É total pré-conceito, mas como curtir uma turma só de mulheres onde sou a mais velha e a única que não tem o inglês como língua nativa? Veja bem, não estou falando do curso em si, que é ótimo, me refiro às colhega tudo.


Num universo de 14 meninas (nenhum homem, nem um gay sequer) entre 21 e 23 anos o que você encontra? Uma cambada de histéricas. Preguiiiiça... Eu com meu jeitinho também não ajudo, eu sei. Mas como arrumar paciência para uma guria que cai em prantos na sala porque é a única que ainda não tem a pauta para matéria dela? Cê jura, né?


Isso me lembra quando comecei no Dia, tinha 23 anos e era uma idiota. Chorava porque não sabia escrever, entrava em pânico em reunião de pauta (hummm, pensando bem durou até bastante isso, hehehe), portanto eu entendo o drama da garota, mas pôxa, é uma pós-graduação, não é vida real, entende? Não é como se não fosse sair jornal no dia seguinte porque ela não achou um tema brilhante. Mas enfim, como todo mundo foi lá passar a mão na cabeça da garota ("oh darling, don't be sad, you'll make it") e já tava todo mundo me achando a escrotinha do camping porque eu não achava aquilo um big deal, fui lá ter com a moça. 


Fofamente cheguei perto dela e falei basicamente que ela poderia escrever sobre o que ela quisesse, que essa era a beleza do jornalismo, o importante era como ela escrevia (isso é minha opinião, tá? Eu realmente acho isso, mas também queria fazer ela se sentir mais confiante) e que, fala sério, se ela achava que alguém ali era muito genial?


Esse último comentário não foi bem recebido pelas outras colegas, até porque estava claro que eu me achava genial, hehehe. Não é isso, não me acho fodona, mas cara, de alguma coisa deve servir esses anos a mais que tenho, né?


Enfim, daí passou. Uns dias depois, estávamos na aula e a professora começou a explicar como funcionava esse lance de off com as fontes aqui na Inglaterra e disse que não existe off. Se o cara fala com você sabendo que você é jornalista, então é on. Eu discordei e disse que "de onde eu venho" não é assim, não, e tals. E começou uma discussão saudável. Afinal, eu vim aqui para isso, né? Me conta como funciona aqui nas Inglaterras que eu te conto como é lá em casa e assim vai.


Menina... Pra quê?!. No fim da aula as colhega tudo ouriçada me cercando dizendo que eu era muito bélica, que tinha BRIGADO com a professora. Ai gente, na buena!!!!!!!!!!!! Não é de babar de preguiça?! Fiquei sem o menor saco de explicar que aquilo era um bate-papo, uma troca de ideias e tals, e falei que no Brasil a gente era assim mesmo e foi mal aí qualquer coisa, mas acho que vocês se impressionam por muito pouco. Olhos arregalados e minha cara, impassível, blasé. Acho até que falei isso enquanto tragava meu cigarro, bem francesa.


Eu fico abismada que ali é um dos melhores cursos de jornalismo de moda e lifestyle do mundo e o povo se comporta como se tivesse no colégio. Aí claro, elas adoram zoar meu jeito e ficam rindo quando falo umas paradas erradas, mas aí, na boa? Num guentam 10 minutos de porrada comigo lá fora.

sábado, 2 de abril de 2011

Semaninha....

Parece mentira que depois de 9 noites mendigando sofás alheios eu finalmente me mudei. E foi bastante irônico que isso tenha acontecido no dia 1 de abril. Minha nova casa fica em Mile End, East London, então já posso dizer que sou hipster.


Eu moro com uma estudante de medicina (acho q ela se formou essa semana e vai começar residência agora) e um menino estudante de alguma coisa que eu não sei, visto que ele tb se mudou ontem e não nos cruzamos ainda. Os dois são ingleses, então vai ser bom para perder o sotaque italiano que adquiri nos últimos meses.


Essa última semana foi a mais difícil aqui, pior do que quando sobrevivi com os 50 centavos. Porque eu continuo na merda de dinheiro (uma vez que só recebo dia 11 e não tenho dinheiro para viver até lá), estava com uma TPM que nunca vi nada parecido, mudando de casa em casa carregando mochila nas costas, dormindo uma média de 5h por noite e tendo que me concentrar fazendo trabalho da pós. Foda.


Assim que cheguei na casa nova constatei o óbvio: preciso comprar roupa de cama, travesseiro, uma cadeira e um abajur. Ou seja, assim que cheguei tive de sair para procurar os cacarecos e lá se foram meus últimos pounds. Achei auspicioso que a dona do apt (a tal estudante) me recebeu com um bloody mary "I don't know if you like it, but I really need one of this". Bring it on, baby. Realmente, alcool parecia a resposta para tudo naquele momento. Era beber ou sentar e chorar pensando em como dar conta de tudo.


Ainda tenho um trabalho para entregar, um essay sobre o mercado de revistas masculinas brasileiro. Ai, cê jura? Na terça, quando estiver tudo certo, serei outra pessoa. E no dia 11, quando receber, outra ainda mais feliz. Por enquanto tá foda, mas pelo menos a primavera chegou mesmo e a gente não congela mais na rua.